Personagens que fizeram e ainda vão fazer história Aqui estão relacionados alguns dos principais expoentes da nossa terra, entre eles literatos, artistas, esportistas, políticos, pessoas comuns, entre outros. Que chamaram a atenção do mundo e que, o mais importante, foram e são manezinhos da ilha.
Antonieta de Barros Educadora Baseado no texto de Maria de Lourdes Gonzaga
Antonieta
de Barros, vulto
da Educação Catarinense, nasceu
no dia 11 de julho de 1901 em Florianópolis, Santa Catarina.
Filha de
Rodolfo de Barros e Catarina de Barros.
Seus artigos, crônicas
e poesias eram assinados com o pseudônimo de “Maria da Ilha”. Com
muita dedicação e perseverança, de
família pobre e humilde, vai se dedicar desde cedo às letras. Desde os
seus primeiros estudos já leciona para o Magistério
e em 1921 conclui
o Curso Normal na Escola Normal Catarinense. Ainda neste ano, fundou o
Curso Antonieta de Barros que funcionou até 1952.
No ano seguinte, fundou o Jornal A Semana, que circulou até 1927. Como
princípio fundamental de sua vida sempre combateu o analfabetismo como
filosofia para superar o atraso e a miséria do povo. Em 1935,
aos 34 anos, na condição
de negra e mulher, foi
eleita Deputada Estadual à Assembléia Constituinte e Legislativa
Estadual, sendo a
primeira a exercer
um mandato parlamentar pelo
Partido Liberal Catarinense.
Deve-se ressaltar este fato em 1937 quando foi eleita, o contexto social
político e econômico do país não era favorável para um posto de tal
envergadura.
Na
Constituinte foi relatora dos capítulos de Educação e Cultura e do
Funcionalismo. Apresentou Projeto de Lei criando o Concurso de Carreira
para ingressar no Magistério Estadual. Pertenceu até 1937 ao Partido
Liberal Catarinense e publicou
em agosto daquele ano o livro de crônicas “Farrapos e Idéias”. Já
em 1947,
retornou à Assembléia Legislativa pelo Partido Social Democrático, no
qual permaneceu até 1952. Lecionou
nos Colégios Coração de Jesus; Instituto Estadual de Educação - no
qual foi Diretora; e Dias Velho - o qual dirigiu por oito anos. Cursou
Jornalismo e Literatura. Escrevia para os jornais O Estado e A República, além da revista A Semana e Vida e Lua. Faleceu a 28 de março de 1952, aos 50 anos e foi sepultada no Cemitério São Francisco de Assis, em Itacorubi. A
seguir, frase
escrita
na crônica “De Joelhos”, que ressalta bem o que foi a Professora
Antonieta de Barros ao abraçar a missão que ela assumiu: “Bem
ajas ti Senhor, que na sua infinita bondade, me fizeste em verso!”
João da Cruz e Sousa Poeta Texto de Manoel Gomes
João da Cruz e Sousa, poeta
brasileiro, que usava o nome literário de CRUZ E SOUSA, nasceu em
Desterro a 24 de novembro de 1861. Filho do
mestre de pedreiro Guilherme da Cruz e de sua mulher Carolina Eva da
Conceição, estes escravos do Marechal Guilherme Xavier de Sousa,
casado com Dona Clarinda de Sousa. Como o casal não possuía filhos, ao
alforriar os pais do menino João, criaram-no como filho adotivo,
havendo Dona Clarinda lhe ensinado as primeiras letras. Quando
o Marechal Guilherme Xavier de Sousa, que recebera do Duque de Caxias o
comando das forças brasileiras em operação em Assunção, regressa, já
velho e doente a Florianópolis, em 1869, é o menino João da Cruz, então
com 8 anos, que vai recebê-lo e saudá-lo, recitando ingênuos versos
de sua lavra. Diz
Magalhães Júnior, na biografia do Poeta que "o militar,
boquiaberto, não pôde acreditar naquele milagre". Um ano depois,
em dezembro de 1870, morria o Marechal Guilherme e conta a história que
deixou poucos haveres. Mas o menino completou os seus estudos escolares
no Ateneu Provincial Catarinense, onde
teria sido aluno do sábio alemão Fritz Müller, que muito o admirava
pela sua precoce inteligência. Na
sua vida de intelectual em formação, grande passo foi o seu
relacionamento em 1881 com outro ilustre catarinense, contista e
escritor: Virgílio Várzea, com quem formou um audacioso grupo literário
na pequena Florianópolis de então. Nos
anos de 1882 e 1883 engajou-se na companhia teatral de Julieta dos
Santos, como ponto e secretário, percorrendo com esta quase todas as
capitais brasileiras. Juntamente com Virgílio Várzea, entre 1883 e
1889, dirige em Florianópolis a TRIBUNA POPULAR, de apoio à campanha
abolicionista. Em
1885, em parceria com Virgílio Várzea, lança o seu primeiro livro
Tropos e Fantasias, e nesse mesmo ano funda o jornal "O
Moleque", de vida efêmera. Reagindo ao preconceito de cor que
imperava, de forma mais nítida, nas pequenas cidades, em 1886, Cruz e
Souza quis refugiar-se numa espécie de nomadismo intelectual, voltando
a participar de uma companhia teatral, que percorreu o Rio Grande do
Sul, sendo bem recebido, chegando a tentar publicar um jornal em
Pelotas. Retornando a Santa Catarina, aqui pouco se demorou, fixando
residência no Rio de Janeiro de 1890, quando fez amizade com Luiz
Delfino, Nestor Vitor, Emiliano Perneta, Gonzaga Duque, José Henrique
de Santa Rita e outros intelectuais da época. Como jornalista,
trabalhou para a "Folha Popular" e "Cidade do Rio, esta
de Patrocínio. Sem
se firmar profissionalmente como jornalista nem conseguir a subsistência
como poeta, Cruz e Sousa conhece anos de quase penúria. Em 1893,
contrai matrimônio com Gavita Rosa Gonçalves, preta também, havendo
tido o casal quatro filhos: Raul, Guilherme, Reinaldo e João. Nesse
mesmo ano, publica o livro Broquéis, muito bem aceito pela crítica e
com o qual marca a presença do Simbolismo na poesia brasileira. Não
conseguindo viver da sua arte, foi ser arquivista da Estrada de Ferro
Central do Brasil. Embora a sua situação econômica registrasse alguma
melhora, "ganhando o necessário para viver", conforme
assinala Raimundo de Menezes, a desgraça haveria de marcar a vida do
grande Poeta: perdendo os três filhos em tenra idade, sua esposa Gavita
enlouquece, recuperando-se a tempo de assistir o marido qUe logo após
adoeceria gravemente. E foi nesse estado de profundo sofrimento e angústia
que Cruz e Sousa produziu os seus mais belos versos contidos em Evocações,
Faróis, e Últimos Sonetos. Em
1895, Cruz e Sousa recebe a visita do poeta mineiro Alphonsus de
Guimaraens, que fora ao Rio especialmente para conhecer o grande Cisne
Negro, já a essa altura atacado de tuberculose. Na esperança de
recobrar a saúde, Cruz e Sousa segue para a estação de Sítio, hoje
Município de Antônio Carlos, em Minas Gerais, falecendo três dias após
a sua chegada, em 19 de março de 1898. "E veio para o Rio, morto,
fora do esquife, num vagão de cavalos", assinala Raimundo de
Menezes. Os
jornais da época referem que as despesas do modesto enterro foram
cobertas pela contribuição de amigos, havendo o dinheiro que sobrou
sido entregue â viúva. O seu corpo foi aguardado no Rio por Nestor Vítor,
Maurício Jobim, Tiburcio de Freitas, Saturnino Meireles e Carlos Dias
Fernandes e ao seu velório, numa câmara-ardente improvisada numa das
dependências da estação da Centra do Brasil, compareceram, entre
poucos outros, Escragnolle Dória, Senador Esteves Júnior, Virgílio Várzea
e Luiz Edmundo. Em
5 de agosto de 1943 é inaugurado o mausoléu definitivo do poeta,
mandado construir pelo governador Nereu Ramos, no Cemitério São
Francisco Xavier, segundo projeto do escultor Hildegardo Leão Veloso.
Nessa solenidade usaram da palavra, enaltecendo a obra poética de
Cruz e Sousa, o Embaixador Edmundo da Luz Pinto e o poeta Tasso da
Silveira. Da
sua descendência, Raul, Guilherme e Reinaldo morreram crianças. João,
que nascera após a morte do pai, ficou órfão de mãe aos seis anos e
foi criado pela avó materna Maria Eduarda, falecendo em 1915, com 17
anos. Mas, ao falecer estava unido a Francelina Maria da Conceição,
que dele teve um filho póstumo. "O filho póstumo como o pai, até
recentemente vivia em Moça Bonita, subúrbio carioca, com grande
descendência, pensionado pelo Governo de Santa Catarina, por
iniciativa, de Irineu Bornhausen". (Artigo de Afonso Várzea,
"Jornal do Brasil" de 25.04.52
e reportagem em "A Noite", de 16.12.52, reproduzidos em Poesia
e Vida de Cruz e Sousa, de Raimundo Magalhães Júnior).
BIBLIOGRAFIA
DE CRUZ E SOUSA: Tropos e Fantasias, Florianópolis, 1885; Bróqueis,
Rio, 1893; Missal, Rio, 1893; Evocações, Rio, 1898; Faróis, Rio,
1900; Últimos Sonetos, Paris, 1905; Obras Completas, organizadas por
Nestor Vítor, Rio, 1923-1924, em 2 volumes, Poesias Completas, com prefácio
de Tasso da Silveira, Rio, 1944; Obras Poéticas, organizadas por
Andrade Murici, Rio, 1945, 2 volumes.
Franklin Cascaes Bruxo da Ilha Historiador e Folclorista
Franklin Cascaes nasceu a 16 de outubro de 1908 em Itaguaçu, município de São José (SC). Faleceu a 15 de março de 1983, em Florianópolis. No decorrer de sua vida expressou em forma de arte os estudos que realizou sobre a cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina, seus aspetos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições como se fora um ritual abstrato que atingisse a estrutura vital do mito. E fê-lo soberbamente, já que da pesca da tainha a cerâmica,dos cantos aos engenhos de farinha e açúcar, aprofundou sobretudo o estudo que trata das lendas através de um desenho fantástico, cujo sentido mítico dimensiona uma criatividade genuína e profunda. Para Cascaes mito é a possibilidade de primordial, a realidade inteligível que estabelece de modo único, numa pré-figuração do mistério que antecede a revelação. A força criativa de Cascaes encontra-se, ainda, na capacidade de sua imaginação, a ponto de acrescentar elementos atuais às lendas da Ilha de Santa Catarina. Tinha uma personalidade muito forte e curiosa e isto pode ser percebido no seguinte agradecimento: "aos que me contaram estórias e histórias; aos que me acolheram com o valor cultural do calor humano; aos que me hostilizaram, a todos enfim o meu obrigado".
Um conto de Cascaes
Vassoura Bruxólica
"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens, bruxas, demônios e boitatás existem". Sempre foi crença do povo hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa, não se deve tomar instrumentos de trabalho para usa-los, seja qual finalidade for. É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas nesta hora servem para todo o tipo de cura. É a fé, longínqua dos tempos, aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na cura dos males que atacam o homem em franca vivencia espiritual e física com o seu Deus. As forcas atuantes de praticas religiosas freiam os instintos animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e conseqüentemente com o seu próximo. Entrementes, sempre aparecem nos meandros desses cenários fantásticos, e outros moderados, pessoas que se arrojam contra os poderes divinos, maltratando esses conjuntos de sociedades freadoras, veículos insubstituíveis de abrandamento de sofrimentos que martirizam e acoitam a criatura humana. Um caso de desrespeito espiritual aconteceu ha muitos anos passados, lá pras bandas do sul da Ilha de Santa Catarina. A Maria Vivina, moradora da praia dos Naufragados, fez uma aposta com a Carrica, de que, na Sexta-Feira-Santa daquele ano, ela tomaria uma vassoura e com a mesma, varreria o quintal de sua casa e,certeza tinha, nada lhe aconteceria de extraordinário. Apostaram um par de tamancos contra uma botina. E firmaram a promessa da aposta, casando-a. Quando a Vivina deu a primeira varredela, a vassoura soltou-se de suas mãos qui nem um relâmpago, metamorfoseou-se em bruxa, ganhou altura sobre o morro do Ribeirão da Ilha e desapareceu, num repente, no espaço sideral das alturas incomensuráveis da quimera. A Maria Vivina caiu de joelhos no terreiro, rezou e pediu perdão aos céus pelo ato impensado que havia cometido contra as ordens divinas, chorando copiosamente. A Carrica abraçou-se com ela e ambas choraram e sentiram o amargo do néctar da desobediência humana. Nenhuma das duas era bruxa, porque a vassoura, que e um instrumento de montaria de bruxas, foi embora, viajar pelo espaço sideral, sozinha. Oh! Minha querida Ilha de Santa Catarina de Alexandria, és a graciosa sereia que repousa sobre brancas areias de comoros errantes, sambaquis seculares, banhada pelas ondas acasteladas do oceano, perfumada pela brisa acariciante dos ventos e enxuta com as toalhas felpudas dos raios solares que beijam calorosamente seu corpo mitológico.
Em 1931 apresentou seu primeiro seu trabalho artístico e cultural, enfatizando sempre o folclore açoriano. A partir de 1974 que sua obra começa a ser divulgada.
Luiz Delfino dos Santos Príncipe dos Poetas Brasileiros Poeta e Político
Luiz Delfino dos Santos, nasceu a 25 de agosto de 1834, nos fundos de uma loja pequenina, na rua Augusta (rua João Pinto), em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, filho de Thomás dos Santos e Delfina Vitorina de Oliveira, pai imigrante português e mãe desterrense. Na casa térrea, de soleira de granito com janelões na fachada, nascia então o poeta que mais tarde seria aclamado como o "Príncipe dos Poetas Brasileiros". De família católica, um tanto supersticiosa. Dessa maneira, por ser dia de São Luís, rei Luiz XIV da França, recebeu o nome como mandava a tradição. Menos de dois meses o pequeno Luiz recebia os santos óleos do batismo. Os padrinhos foram Vicente de Amorim e Nossa Senhora, sendo a criança registrada como Luiz dos Santos. Só alguns anos mais tarde, o Delfino lhe seria incorporado ao nome. Sempre de saúde debilitada, preocupava os pais. Essa preocupação agravou-se com o nascimento, no ano seguinte, do irmão Tomás, ainda mais frágil. Para remediar a debilidade das crianças, diz a tradição familiar que foram alimentadas com banana-de-são-tomé e mel, o que surgiu efeito em Luiz más não em seu irmão. Criado em meio a escravaria doméstica, Luiz cresceu naquela liberdade de pés descalços e travessuras no seio da natureza, subindo árvores atrás de ninhos de passarinhos, correndo pelo quintal, como qualquer menino do Brasil patriarcal e escravagista do séc. XIX. Numa das passagens do cotidiano da família, um fenômeno curioso fora vivenciado pelo pai e o filho, que os psiquiatras classificariam de alucinação e os espíritas de clarividência. Ao ver Thomás falando sozinho, Luiz interrogou-o, desconcertado e surpreso. O velho pai limitou-se a indicar o fundo da loja. O garoto dirigiu o olhar para o local indicado e viu um negro acocorado, que, segundo Thomás, convivera com ele em Macau. Ingressou no Colégio dos Jesuítas, após completar seis anos de idade. O que lhe atribuiu autodisciplina e obediência ao ensino jesuítico, mas que também por muitas oportunidades mostrou-se valoroso nas diversas situações controvertidadas de que era o protagonista. O que despertou o interesse dos mestres Dom Mariano Moreno e Padre Aguero, ambos estrangeiros. Exercendo este colégio, um papel fundamental na formação do futuro poeta. Conclui o curso de Humanidades no Colégio Vitório, no Rio de Janeiro. O Colégio ficava localizado na Rua dos Latoeiros, 46, vizinho a alguns passos o nº 56 de Gonçalves Dias. Um dia porém, criou coragem, subiu as escadas do sobrado e apresentou-se ao grande poeta maranhense com um poema na mão. Conta-se que Gonçalves Dias, talvez um tanto apressado, levou os versos para ler na banheira. Ao, retornar à sala, entusiasmado, com o corpo ainda gotejante, dirigiu-se a Delfino, aos gritos: "Temos um poeta! Temos um poeta!". De temperamento romântico, a que não lhe faltava um certo fundo de morbidez, Delfino deixa-se logo subjugar pelo sentimentalismo extremo dos ultra-românticos. Sente-se, no entanto, indeciso entre a poesia, a ficção e o teatro. Forma-se em medicina e em janeiro de 1858 volta ao Desterro acompanhado do pai e um escravo, onde permanece pouco tempo. Retornando ao Rio de Janeiro, instala-se no bairro da Tijuca para depois transferir-se definitivamente para o Largo do Capim, no centro, onde fez de sua residência sua clínica. Ali, apesar de realizar-se como médico, inquietamente, não conseguia permanecer longe das letras. Por isso, escrevia muito, tanto que passou a publicar suas obras literárias - cinco longos poemas, na "Revista Popular", por conta da reputação dos anos da faculdade. Nas eleições do dia 15 de setembro de 1890, uma segunda-feira chuvosa, elegeram o o poeta, Senador. Juntamente com Raulino Horn e Esteves Júnior preencheram as vagas no primeiro Senado da República. Idêntico sucesso obteve o filho mais velho, Tomás Delfino como o sexto deputado pelo Distrito Federal. No senado, quanto a sua atuação de Delfino, Ubitatan Machado diz: "Desde a abertura dos trabalhos no Senado, Luiz Delfino procurou corresponder a confiança de seus conterrâneos. Sentia-se empolgado, cheio de planos". Ao concluir seu triênio, em 1983, desiludido com a política, recusa-se a reeleição, sendo substituído por Gustavo Richard. Com 59 anos, o poeta entra numa nova fase, reativando a veia poética que nunca o teria renegado. Enfim, como poeta deixou obra extensa, esparsa, por jornais e revistas (só reunida em livro após sua morte), tendo sido eleito, em 1895, pela crítica carioca como Príncipe dos Poetas Brasileiros e, em 1900, considerado por Silvio Romero o maior poeta do Brasil, "pela variedade e extensão de sua obra". Morreu a uma hora da tarde do dia 31 de janeiro de 1910, de arteriosclerose múltipla, no Rio de Janeiro.
.... Marcelino Antônio Dutra Poeta do Brejo Poeta e Político
Marcelino Antônio Dutra, nasceu a 19 de julho de 1809, em Desterro. Foi professor, promotor público, poeta, jornalista polemista e político brasileiro. Filho de Alferes Manoel Garcia Dutra(*) e de Joaquina Maria da Conceição. Avós paternos: Manoel Dutra Fialho, natural da Ilha do Pico – freguesia de São Mateus, e Joana Maria de Freitas, natural da Ilha da Madeira – freguesia de São Vicente; avós maternos: Francisco Antônio Correia e Francisca Rosa Joaquina, ambos naturais da Ilha do Faial, ele da freguesia da Feteira e ela da freguesia de Nossa Senhora do Rosário. Casou-se com Florinda Cândida de Freitas a 16 de agosto de 1840, após dedicar-lhe férvidos versos, da união nasceram dois filhos, Ovídio Antônio Dutra (1943 – 1877) funcionário público e político e Marcelino Antônio Dutra Filho. Marcelino deixou também dois filhos fora do casamento: Juvêncio e Antônio Reis Dutra (1835 – 1911). Ambos poetas. Autodidata, ao concluir os estudos primários exerceu o cargo de Escrivão do Juizado de Paz de sua terra natal. Foi nomeado mestre-escola a 12 de setembro de 1832, na “Escola Modelo”, criada no Desterro pela Lei n. 136, de 14/4/1840, conforme assinalou o Presidente da Província na Fala inaugural dos trabalhos da Assembleia Legislativa em 1944; e, em reconhecimento dos seus méritos, o Marechal Antero Ferreira de Brito transferiu-o para a “Primeira Escola Pública” da Capital, com o ordenado anual de Rs. 600$000, duplo do que percebia no Ribeirão. De 1837 a 1838 voltou ao cargo de Escrivão. Filiado ao Partido Liberal, apelidado em Desterro “Partido dos Judeus”, chefiado por Jerônimo Coelho. Foi deputado à Assembléia Legislativa Provincial na 5ª Legislatura (1844-45), na 6ª Legislatura (1846-47), na 9ª Legislatura (1852-53) foi suplente convocado a Deputado Provincial. Voltou a ser Deputado Provincial na 10º Legislatura (1854-55) e 11ª Legislatura (1856-57). Em 1856 foi 1º Secretário da Assembleia Legislativa e em 1857 assumiu a Presidência da Assembleia Provincial. Deputado Provincial à 13ª Legislatura (1860-61) ocupou a Vice-Presidência da Assembleia em 1860-61, e Deputado Provincial à 14ª Legislatura (1862-63), foi Presidente da Assembleia em 1862. Como Suplente convocado, foi Deputado Provincial à 16ª Legislatura (1866-67). Concomitantemente foi Promotor Público de São José (1853), Vereador da Câmara do Desterro (1856), Promotor Público da Capital (1858-68) e Procurador Fiscal da Diretoria da Fazenda Provincial (1868). Foi o primeiro a reconhecer, de público, o talento poético de Luís Delfino, que juvenilmente versejava sob o influxo do lirismo romântico então dominante. Em 1860 presidiu a Sociedade Recreio Carnavalesco e foi diretor do Club Catarinense, em 8 de setembro de 1862 foi aclamado presidente de uma sociedade literário fundada nas dependências da Assembleia Provincial. Jornalista, suas obras literárias estão dispostas nos jornais da época, exceção de seu poema mais conhecido denominado Assembleia das Aves, editado em 1847, no Rio de Janeiro, e reimpressa em 2ª edição em 1921, em Florianópolis, por iniciativa da Sociedade Catarinense de Letras. Este poema está relacionado à campanha política de 1847, nas quais ridicularizava os políticos do Partido Conservador, que no Desterro era apelidado (Partido Cristão) e que representava a burguesia comercial local e os clérigos, sendo seu líder Arcipreste Paiva. Para entender melhor o poemeto timbre de Marcelino, Cisne era Jerônimo Coelho, Quero-Quero Arcipreste Joaquim Gomes de Oliveira e Paiva e Aves deputados e políticos. Marcelino era figura pitoresca, costumava chegar de canoa ao trapiche que dava acesso ao mercado público municipal, trazendo hortaliças diversas que cultivava no Ribeirão da Ilha. Ali descarregava a canoa, e rumava para a Assembleia onde se tornava ardoroso combatente. Procurou desenvolver a cultura de algodão no Ribeirão, chegando alcançar, em 1867, uma medalha de prata na Exposição Nacional. Os adversários o apelidaram “Poeta do Brejo”. Foram famosas as suas poesias satíricas publicadas nos jornais da cidade e suas polêmicas com o Arcipreste Paiva. Como escritor e poeta usou diversos pseudônimos: Inhato-Mirim, Gil Fabiano, Poeta do Brejo (ou P. do B.) além da sigla M.A.D. Aos que tentaram ridicularizá-lo a resposta vinha de forma definitiva: “É porque tudo deve ter seu préstimo, quis Deus que aos tolos, não prestando para amigos, nos fossem úteis como adversários.” Marcelino Antônio Dutra é patrono da cadeira 34 da Academia Catarinense de Letras. Administrador do primeiro cemitério público de Florianópolis, situado na cabeceira da Ponte Hercílio Luz, ao lado do primeiro cemitério alemão, criou vários epitáfios, dentre eles seu próprio:
"Aqui jaz Marcelino Antônio Dutra Que mil e poucos registrou E que, no final Também entrou."
Afinal, não foi enterrado lá, e sim na sua terra natal, o distrito de Ribeirão da Ilha. Morreu a 13 de julho de 1869, em Desterro .
![]() Victor Meirelles Pintor
Victor
Meirelles de Lima nasceu
a 18 de março de 1832 em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis,
filho de Maria da Conceição Prazeres e Antônio Meirelles de Lima,
imigrantes portugueses, num sobrado situado na Rua da Pedreira, hoje Rua
Victor Meirelles, transformado em museu dedicado ao artista. Sua vocação
para desenho e pintura foi estimulada pelo engenheiro argentino e
exilado político Marciano Moreno que lhe ensinou desenho geométrico.
Em 1846, o Conselheiro do Império Jerônimo Coelho, vindo a Desterro em
missão do governo, entusiasmou-se com o jovem, que na sua presença
desenhou uma vista da cidade e copiou uma litografia. De volta ao Rio de
Janeiro, o Conselheiro levou os desenhos que foram mostrados ao Diretor
da Academia Imperial de Belas Artes, Felix Emile Taunay. O mestre francês
aprova os trabalhos e com um grupo de amigos decide custear seus estudos
na Corte. Pode então o jovem artista seguir para o Rio de Janeiro em
1847, com 15 anos incompletos, matriculando-se na Academia Imperial de
Belas Artes, no curso de desenho, com José Correia de Lima, ex-aluno de
Debret. No ano seguinte conquista a Grande Medalha, que traz a seus
pais, quando de sua primeira visita à terra natal. Aproveita suas férias
e pinta um panorama do Desterro, visto do adro da Igreja Nossa Senhora
do Rosário, restaurado em 1986 pelo Museu Nacional de Belas Artes, que
agora se encontra no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis, e um
retrato de “Marciano Moreno”, seu primeiro mestre. Em 1849 regressa
à Corte e cursa Pesquisa Histórica até 1852, quando vence o Prêmio
de Viagem à Europa, com a tela “São João Batista no Cárcere”. Em
abril de 1853, embarca para a Europa e desembarca no Havre, em junho.
Depois de breve estada em Paris, fixa-se em Roma, onde tem como mestres
Tommaso Minardi e Nicolau Couronni, da Academia São Lucas. Com o último,
estuda modelo vivo e costumes. Segue para Florença onde analisa os
tesouros artísticos em museus e igrejas. Como pensionista dedicado e
cumpridor de seus deveres, envia regularmente trabalhos à Academia,
como também orçamento das despesas com atelier e modelos vivos. Com
isso cria um clima de simpatia entre os membros da Academia, que decidem
prorrogar seu estágio na Europa, por três vezes: 1854 a 58, de 1858 a
60 e ainda por mais três meses no último ano. Em junho de 1856, segue
para Milão e depois para Paris, onde tem como mestre Leon Cogniet e
Gastaldi, na Ecole des Beaux Arts. Nesse período, troca correspondência
com Manoel de Araújo Porto Alegre, Diretor da Academia Imperial de 1854
a 1857, que se torna seu mentor intelectual. Foi dele a sugestão para o
grande trabalho, “A Primeira missa no Brasil”, que tomaria dois
anos. Em
1861 submeteu a tela ao júri do Salão de Paris, que a aceitou com
referências elogiosas. No mesmo ano, com 29 anos, regressa ao Brasil e
é condecorado, pelo Imperador Dom Pedro II, com grau de Cavalheiro da
Ordem de Cristo e Imperial Ordem Rosa. Logo após, visita Desterro,
chegando no vapor Tocantins. Fica alguns meses com sua mãe, já viúva,
numa chácara distante da cidade onde pintou vários quadros. Volta ao
Rio de Janeiro em setembro de 1861, sendo nomeado Professor Honorário
da Academia Imperial e, no ano seguinte, assume a cátedra de Pintura
Histórica. Lecionou, também, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de
Janeiro, onde renovou os métodos de ensino. Em 1868 recebe encomenda do
Ministro da Marinha, Afonso Celso, para pintar dois quadros históricos:
“Combate Naval do Riachuelo” e “Passagem de Humaitá”, episódios
da guerra do Paraguai. Viajando para lá, a bordo do vapor Wassimon,
passou alguns dias no Desterro. Por vários meses ficou a bordo de
navios de guerra fazendo esboços para os quadros que mais tarde
comporia no Rio de Janeiro, em duas salas do convento de Santo Antônio.
Os quadros, terminados em 1872, foram apresentados na Exposição de
Belas Artes do Rio de Janeiro e, em 1876, na Exposição de Filadélfia,
EUA. O “Combate Naval do Riachuelo”, devido à umidade do navio,
ficou completamente danificado. Pacientemente,
Victor reproduziu-a e, em 1879, pode entregá-la ao Almirantado
Brasileiro. Em 1930, a mesma tela foi restaurada por Sebastião Vieira
Fernandes e hoje está no Museu Histórico e Artístico Nacional, Rio de
Janeiro. Em 1875 esteve em Pernambuco executando esboços para a
“Batalha dos Guararapes”, a pedido do Ministro do Império João
Alfredo Correia de Oliveira. Data, de 1875 as obras “Moema”,
“Casamento da Princesa Izabel”, os retratos de “Dom Pedro II”,
da “Imperatriz Tereza Cristina” e do ator “João Caetano”. Sua
pintura religiosa é menos numerosa podendo-se citar: “Flagelação de
Cristo” e “Degolação de São João Batista”. Em 1885 iniciou a
execução de um panorama circular do Rio de Janeiro, com ajuda do belga
Henri Langerock. Expôs o quadro em Bruxelas em 1888, fazendo uso de um
cilindro giratório que permitia ao espectador ficar contemplando as
vistas passarem à sua frente. Ao ser proclamada a República, em 1889,
inimigos políticos do artista, pretextando sua idade avançada (57
anos), conseguiram sua demissão de professor da Escola Nacional de
Belas Artes. Com poucos recursos, instalou num barracão a tela
“Panorama do Rio de Janeiro”, cobrando um mil reis por pessoa, para
poder manter sua sobrevivência. Seu último quadro foi “Invocação
à Nossa Senhora do Carmo”. Adoeceu quando iniciava o “Descobrimento
do Brasil”, morrendo pobre e solitário, em sua casa no Bairro do
Catete, na manhã de domingo de carnaval de 22 de fevereiro de 1903. Foi
casado com Dona Rosália Meirelles mas não teve filhos. Seus quadros podem ser vistos no Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico e Artístico Nacional e Museu Imperial de Petrópolis - RJ. A casa onde nasceu, em Florianópolis, devidamente restaurada pelo SPHAN (atualmente IPHAN) e hoje museu, conserva quadros, estudos e documentos do artista.
![]() Cláudio Alvim Barbosa Zininho Compositor
Na última hora o poeta maior de Florianópolis escapou de se chamar Horzino e foi registrado pelo pai como Cláudio Alvim Barbosa. Nascido em 8 de maio de 1928, em Três Riachos - Biguaçú, o menino guardou do velho nome apenas o apelido, Zininho e se tornou um dos maiores talentos que a cidade conheceu. A estréia no palco, aos 8 anos de idade, e com sucesso, aconteceu pelas mãos do compositor e cantor Waldir Brazil, líder do grupo vocal "Os Demônios do Ritmo", que levou o moleque para se apresentar no teatro da União Beneficente Operária - UBRO, cantando músicas caipiras, trajado como tal. Aos 15 anos, morando no balneário do Estreito com sua avó, descobriu a vocação para a poesia, depois de uma desilusão amorosa. Nessa época, a Rádio Guarujá vivenciava franca expansão e a emissora acabou se tornando uma de suas paixões. O sucesso profissional veio em 1951, com a música "Princesinha da Ilha", que foi inscrita em um concurso de composições carnavalescas para a prefeitura de Florianópolis. Na segunda metade da década de 50, o poeta já era bastante conhecido no meio artístico, passa a integrar o elenco da Rádio Diário da Manhã. Ainda na década de 50, inscreveu novamente em um concurso "Rancho de Amor à Ilha", que em versos enaltecia as belezas da cidade,e ganhou a disputa, tornando-se por aprovação da Câmara dos Vereadores o Hino Oficial de Florianópolis. Apaixonado pela ilha que tanto contou em verso e prosa, Cláudio Alvim Barbosa passou os últimos anos de sua vida lutando contra os problemas de saúde. Recolheu-se em seu apartamento, no bairro continental do Abraão, principalmente depois da manifestação de um enfisema pulmonar, que o levou em 5 setembro de 1998, deixando uma extensa obra como legado.
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