Naquele dia, no final da tarde, no caminho velho do Sambaqui...
A Ilha de Santa Catarina detêm inúmeras histórias e fenômenos inexplicáveis que fazem dela um lugar místico. Bruxas, lobisomens e outras figuras fantásticas rodeiam as comunidades interioranas e pesqueiras permitindo aos seus moradores criar e divagar pelo mundo da fantasia.
Depoimento Laurindo – Freguesia da Lagoa "...Na
venda do Chico Vieira, comentavam quem
Lendas
Árvore dos Enforcados (Anhatomirim)
Junto
ao tronco do araçazeiro, alguns afirmam que foi cortado o verdadeiro
pé de araçá na década de 30, porém ouvem-se estampidos e muito
choro nas altas horas da noite. Dizem ser as
almas dos sacrificados na ilha de Anhatomirim, lamentos impotentes.
Boiguaçú
Significa na linguagem indígena boiguaçu, como um ser de corpo de cobra grande e todo cheio de olhos brilhantes como diamantes. Quem a vê fica ofuscado com o brilho e os seus olhos são devorados.
Boitatá
Há registro de que a primeira versão da história foi feita pelo padre José de Anchieta, que o denominou com o termo tupi Mbaetatá - coisa de fogo. A idéia era de uma luz que se movimentava no espaço, daí, "Veio a imagem da marcha ondulada da serpente ". Foi essa imagem que se consagrou na imaginação popular Descrevem o Boitatá como uma serpente com olhos que parecem dois faróis, couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas, nas beiras dos rios.
Boitatá II
Dizem que é a alma de caboclo em forma de cobra de fogo costumando aparecer nos sítios em que o compadre costuma ter tratos carnais com uma das suas comadres. Não devemos mostrar as unhas para não ser perseguido por ele. Para prende-lo ou afugenta-lo deve-se dizer: "Maria, vai buscar a corda do sino para prender o boitatá." É também chamado de fogo fátuo.
Boitatá III
A mulher que avilta o leito conjugal, transformando-o em latíbulo, no qual recebe o padrinho do seu filho, não só ela, também o amante se transformam em fachos de fogo. Correm por cima da casa em que moraram, quando vivos, caminham um para o outro e, no encontro chocam-se e chispas, fagulhas rútilas aparecem perseguindo os noctívagos transeuntes para lhes roubar a vida. Chamam-na os caipiras Botatá - Bitatá ou mais apropriadamente Boitatá. Dizem que o Boi Tatá é uma grande serpente de fogo encantada, que mora dentro dos rios profundos. Ela ataca qualquer animal que se atreve entrar na água quando está por perto, e lhe come os olhos. A lenda conta, que por ela comer os olhos dos animais, absorve a luz dos mesmos, ficando como fogo brilhante na água. Outros relatam o Boi Tatá, como sendo um gigantesco e assombroso Touro que solta fogo pelas narinas e boca. Dizem que este fantástico ser é na verdade o espírito de gente ruim ou alma penada que vaga terra afora, e por onde passa, vai tocando fogo nos campos ou regiões ermas. É um mito comum em todo Brasil.
Boitatá IV curiosidade sobre o Boitatá no Brasil e no mundo
Esta é uma versão brasileira do mito explicativo do fogo-fátuo ou santelmo, existente em quase todas as culturas. Na Alemanha é a Irrlicht (a luz louca), carregada por minúsculos e invisíveis anões; na Inglaterra é o Jack with a lantern que , em forma de fantasma, guiava os viajantes pelos charcos e banhados; na França é o Sinistro moine des marais (monge dos banhados), com as mesmas finalidades de guias de pântanos; em Portugal são as alminhas, as almas dos meninos pagãos ou a alma penada que deixou dinheiro enterrado não se podendo salvar enquanto este ficar infrutífero. No Brasil é um mito dos mais antigos e de origem quase que totalmente indígena. Seria uma cobra-de-fogo que vagava pelos campos, protegendo-os contra aqueles que os incendeiam. Ás vezes transformava-se em grosso madeiro em brasas que fazia morrer, por combustão, aquele que queima inutilmente os campos. O boitatá foi citado por Padre Anchieta em carta de São Vicente, de 31 de maio de 1560. O padre traduziu o nome por "cousa de fogo, o que é todo fogo". Mbai, coisa e tatá, fogo, davam a versão exata: um fogo vivo que se desloca, largando um rastro luminoso. Como há outra palavra tupi parecida, mboi, cobra; chegou-se a mboi-tatá, a cobra de fogo. Também é conhecido como uma serpente de fogo, que reside na água, ou uma cobra grande que mata os animais, comendo-lhe os olhos; por isso fica cheia de luz de todos esses olhos. Touro ou boi que solta fogo pela boca. Espírito de gente ruim, que vaga pela terra, tocando fogo nos campos ou saindo que nem um rojão ou tocha de fogo, em variantes diversas. É conhecido por diversos nomes em diferentes regiões do Brasil. No Norte e Nordeste é chamado de batatão, no Centro-Sul de boitatá, bitatá, batatá e baitatá. Já em Minas Gerais também é conhecido como batatal, e ainda como Biatatá, na Bahia. Prudentemente, Anchieta dizia: "O que seja isto, ainda não se sabe com certeza". Conteúdo do site Educativa Net
Bruxas
Quando de um casal nascem sete filhas; sem nenhum menino de permeio, a primeira ou a última será, fatalmente, uma bruxa. Para que isso não venha a acontecer faz-se mister que a mana mais velha seja a madrinha de batismo da mais moça. São apontadas, como tal, certas mulheres magras, feias, antipáticas. Dizem que têm pacto com o demônio, lançam maus-olhados, acarretam enfermidades com os seus bruxedos etc. Costumam transformar-se em mariposas e penetram nas casas pelo buraco da fechadura. Tem por hábito chupar o sangue das crianças ou mesmo de pessoas adultas, fazendo-as adormecer profundamente. A marca do chupão deixado na pele, chama o vulgo de "melancolia". Para que as crianças não batizadas não sejam atacadas pelas bruxas, deve-se conservar luz acesa no quarto. Sabe-se que uma mulher é bruxa, quando dá a apertar a mão canhota (esquerda). Para se descobrir a bruxa que chupa o sangue da criança e ela apareça, soca-se em um pilão a camisa da criança ou da pessoa por ela chupada. Fia logo se apresenta e pede para que não façam aquilo. Existe, também, uma oração contra elas; quem as possui consegue descobri-la e prendê-la e também não adormece quando ela a noite penetra em casa. A pessoa assim presumida toma para prendê-la, de um tacho ou uma medida de alqueire, e logo que a bruxa entra em casa, emborca o tacho ou a medida e ela fica incapaz de sair. Há ainda, outro processo de identificar uma bruxa: vira-se a lingüeta da fechadura de uma canastra. A bruxa, ao entrar em casa, a primeira coisa que faz é pedir para endireitar-se a lingüeta.
Depoimento
"...
A mulher feiticeira aprende uma com a outra.
Reza contra bruxas Com a vela benta da Sexta Feira da Paixão Treze raios tem o sol, treze raios tem a lua, Salta demônio para o inferno que esta alma não é tua
Tosca, marosca, rabo de mosca, Aguilhão nos teus pés e relho na tua bunda Por cima do silvado, por baixo do telhado, São Pedro, São Paulo e São fontista, Dentro de casa de São João Batista
Bruxa, tatatabruxa, não entres nesta casa Nem nesta comarca toda, por todos os Santos dos Santos Amém
Cabeça de Fogo
Na chácara da dona Orlanda, aparecia a cabeça de fogo. Corria sem ter pernas. Uma grande cabeça peluda e redonda com uma bocarra repleta de dentes afiados e com olhos flamejantes. Voava por baixo das árvores, daqui para ali e desaparecia mergulhando nos cafezais. Eu acreditava que eram índios assustando os invasores de suas terras tradicionais, onde havia algo considerado sagrado para eles. Como local onde estavam os sepultamentos dos ancestrais de sua gente. Não sei! Sambaqui lá também tinha.
Caipora
Também chamado de Caapora. É um ente estranho de basta melena, que tem o corpo coberto de pêlo idêntico ao cateto (tipo de porco do mato) e o rosto, os olhos e os bigodes semelhantes aos do gato. Alto e muito forte. Geralmente mora com os seus em covil de frauda de serra e à beira de rio. Alimentá-se de frutas e mel. Fumante inveterado, exibe-se com volumoso pito com canudo de mais de metro. Anda sempre entre catetos, montado no maior deles. Percorre as matas a fim de verificar se nela encontra algum caçador para que possa atacá-lo e fazendo-o desistir da sua empreitada.
Curupira
Considerado como o deus protetor das florestas. É um pequeno tapuio, com os pés voltados para trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis a vida. O curupira ou currupira, como nós o chamamos no sul, é infixo, onímodo, veloz, desenhado de várias formas pela imaginação das pessoas.
A Imagem de Santo Amaro
Numa ocasião, envolvendo a imagem do Santo Amaro. Muito antiga, resolveram substituir por uma imagem nova e guardaram a antiga. No outro dia a imagem pequena de madeira apareceu no altar junto com a imagem nova. Tiravam e a imagem retornava. Resolveram levar a imagem antiga para a ilha do Xavier. Assim foi feito. No outro dia encontraram a porta da igreja aberta e o rastro de areia dos pequenos pezinhos do Santo Amaro que teimoso voltou para o altar ficando ao lado da imagem nova.
Joaquina
Na Lagoa do século XIX, passou-se uma estória de amor e tragédia envolvendo o jovem casal Joaquina e Alberto. Joaquina filha de seo Aparício e dona Aninha, e Alberto um jovem pescador da Lagoa. Casal amoroso, Joaquina pedia-lhe que não fosse mais ao alto-mar, reclamando da ausência constante do seu amor. Alberto assegurou-lhe então que aquela seria sua última vez. E assim, aconteceu o inesperado. Albertinho não voltou mais do mar desaparecendo da vida de Joaquina na mesma ocasião em que perdera Ana, sua mãe e seu avô, restando-lhe somente o pai para cuidar. Mesmo morando na Lagoa, apesar da recusa do pai, passou a atravessar o areial (dunas) até a praia do mar grosso justificando tirar mariscos das pedras do costão para ajudar no orçamento da casa. Na verdade, estes passeios serviam simplesmente para que, olhando o mar, lembrasse do seu eterno amor. Passados três anos da morte do marido, a moça antes alegre e cheia de vida, demonstrava sinais de mulher sofrida e maltratada pela saudade. Como uma sina que lhe perseguia, numa manhã morre Aparício, em casa, em sua cama, como se entregasse voluntariamente à Deus. Assim, Joaquina deixa a Lagoa para morar na praia do mar grosso, isolando-se numa casa ao pé do costão. Sendo que, ao amanhecer de um dia de setembro sobre as maretas e a areia da praia, Joaquina é encontrada morta. Talvez por não poder mais suportar a falta dos seus entes queridos. A partir daí, a praia do mar grosso passou a ser conhecida como a praia da Joaquina. (Baseado no livro Joaquina - A Garota da Praia, de Ademar C. de Mello)
Lobisomem
O Lobisomem ou Lambisome, como é conhecido entre a arraia miúda da ilha, é - segundo contam - o primeiro ou sétimo dos filhos de um casal, o qual tem um fado triste a cumprir. Tal qual a bruxa, para evitar-se essa desgraça, o irmão mais velho deve batizar o mais moço. A pessoa que carrega esse fado é, geralmente de físico pouco agradável: magro, encaveirado, macilento, de olhos fundos e de cabelos fouveiros. Dizem que ele sai à noite e dirige-se para uma encruzilhada passando a espojar-se onde outro animal o tivesse feito. Dá-se ai a sua transformação tomando a forma de um animal, geralmente do cão. Passa então a percorrer, gemendo ou uivando, pelos caminhos transmitindo infelicidade a todos que encontra. Dizem que sua sina é percorrer entre meia-noite e o primeiro canto do galo sete cidades. Os cães o pressentem de longe e ladram, atemorizados. Em Ratones, certa vez, existia, uma senhora casada que tinha um filho. Todos os dias, logo que o marido se ausentava, ela ia banhar a criança numa gamela. Ao fazê-lo, aproximava-se um cachorrinho, que tentava morder o menino. Ela o enxotava, mas o animal teimava em voltar. Certo dia, ela não se conteve e bateu no bicho que, enfurecido, avançou para ela e rasgou-lhe em tiras a saia de baeta que usava. Ao levantar-se, na manhã seguinte, viu com grande assombro os dentes do marido cheios de fiapos da referida fazenda. Foi assim que ele, sendo um Lobisomem, perdeu o encantamento.
Lobisomem II
Quando é noite de sexta-feira, à meia noite, ele procura uma encruzilhada, atira-se no chão e começa a rolar na poeira. Logo se transforma em Lobisomem. O Lobisomem é o sétimo filho homem de um casal: o caçula. É fácil se saber quem é o Lobisomem: o predestinado costuma ser amarelo e muito magro. Como ele precisa de sangue, depois que se transforma em Lobisomem anda à procura de algum leitãozinho, cachorro novo, e até crianças de colo. E em último caso, ataca mesmo gente grande. Antes de amanhecer, o Lobisomem sempre procura um cemitério e lá consegue voltar a forma humana. Se nesta hora alguém conseguir fazer um ferimento nele com um espinho especial, ele não se transformará em bicho. É noite de quinta para sexta-feira. Uma chuva fina cai sobre a cidade deserta e um vento forte sopra sobre suas ruas. Um homem caminha depressa pelas ruas mal-iluminadas. Ao ouvir um estranho ruído, apressa ainda mais o passo. Porém, sente que está sendo observado. Completamente apavorado, começa a correr. Na esquina vê um vulto escuro. Sentindo que está prestes a se tornar sua vítima, grita por socorro. Mas de nada adianta. Desesperado, cai de joelhos ao chão e com os olhos cheios de lágrima vê a criatura atacar. Com uma dentada no pescoço, o Lobisomem suga seu sangue. Seu corpo fica inerte no chão. Meio bicho, meio gente, a besta sai em disparada para atacar outras possíveis vítimas. Quando o galo começa a cantar, o Lobisomem retoma a sua condição anterior: volta a ser homem, cansado e com os cotovelos cobertos de sangue. Isolado, fica aguardando a próxima oportunidade em que voltará a atacar suas vítimas.
Luz de Bota Luz que Aparece
Ilha de Santa Catarina, onde está situada a maior parte do município de Florianópolis, é chamada de Ilha da Magia, Ilha dos Casos e Ocasos Raros, e foi designada pelos antigos indígenas como Meiembipe ou Ilha dos Patos. Não são poucas por aqui, especialmente nas localidades afastadas do centro da capital, as histórias de fantasmas, feiticeiras e outras coisas estranhas que muito enriquecem o acervo folclórico da ilha. Dentro deste farto conjunto de histórias contadas pelos antigos e nativos moradores desta região ficamos sabendo da Luz de Bota, o que nos fez pensar numa certa relação com a famosa luz que no interior do Brasil é chamada de Mãe-do-Ouro. Pode até não ser o mesmo fenômeno mas é, certamente, algo muito curioso e interessante. Estivemos entrevistando alguns moradores das localidades de Ingleses do Rio Vermelho e São João do Rio Vermelho, ambas localizadas na porção nordeste da ilha, quando pudemos colher histórias maravilhosas sobre o aparecimento de luzes e outras coisas estranhas. Conversamos com o Seu Nonô (Nicanor Domingos dos Santos), 68 anos, com seu irmão Nilton Cassiano dos Santos, 74 anos, com o Seu Mendinho (Diomendes José Pacífico), Seu Dezo (Manoel Izidoro Ramos), 73 anos, além de outros. Todos eles já viram a Luz de Bota, que também chamam de "Luz Que Aparece". De modo geral, o seu aparecimento estava relacionado com as pescarias noturnas, quando então uma luz vermelha e pequena, como se fosse um cigarro aceso, aproximava-se dos pescadores e caminhava lentamente como se os estivesse observando. Não fazia mal a ninguém... mas não se podia mexer com ela, disse Seu Nonô. Também não era recomendável acender fósforo ou cigarro. Se isso fosse feito, a luz ficava girando acima da cabeça da pessoa e soltava faíscas de várias cores. Em tal caso, não adiantava querer se livrar da luz porque ela acompanhava a pessoa até em casa e, às vezes, chegava a queimar a pele. Era uma luz pequena mas quando pousava nas dunas ou em algum morro mais próximo aumentava a luminosidade a tal ponto de parecer uma grande fogueira e permitir que se enxergasse tudo que estivesse por perto. Muitas vezes, disse Seu Mendinho, a tal luz fazia apenas um passeio aéreo e depois, se ninguém mexesse com ela, ia subindo e desaparecia. Todos os entrevistados concordaram que o melhor remédio para se proteger era rezar, apesar de saberem os pescadores que a luz, em princípio, não fazia mal a ninguém. Seu Mendinho também nos disse que além da reza havia outros artifícios usados para se proteger da luz. Não que fizesse mal aos pescadores, disse, mas era apenas o respeito que todos tinham por ela. Os artifícios eram dois: colocar uma faca atravessada na boca ou então desenhar uma estrela de cinco pontas na areia e ficar dentro desta figura. Esta figura de estrela é conhecida pelo curioso nome de "Sinal de São Cinamão". Seu Nilton nos falou também que era bom sentar na beira d'água, pois era um lugar mais respeitado pela luz e dali ela não se aproximava muito. Mas apesar de todos os cuidados dos pescadores, muitas vezes a luz chegava a ficar a uma distância pequena (cerca de 10 metros). Outro detalhe relacionado à Luz de Bota é o fato de aparecer sempre solitária e sem horário definido, muitas vezes permanecendo visível até por 30 minutos, movimentando-se de um lugar para outro. Dava a impressão que ela queria aparecer para as pessoas, disseram alguns pescadores. Quanto a origem do nome, encontramos, ao menos, duas versões. Todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que havia uma sombra que era projetada para baixo. Talvez esta sombra sugerisse a figura de uma bota. E como muitas vezes a luz ficava pairando a mais ou menos um metro de altura, a sombra poderia tocar o chão e daí haver a impressão de uma luz sobre uma bota caminhando na areia da praia. Por sua vez, um outro pescador, o Seu Dezo, enquanto fazia a vigília da tainha no costão da Feiticeira, na Praia de Ingleses, deu-nos uma agradável entrevista sobre este assunto, dizendo-nos que um pouco adiante, na direção norte de nossa ilha, há o costão do Bota, onde também havia, no passado, intensa ocorrência do fenômeno luminoso. Pode ser, assim, que haja alguma relação entre o nome daquele Costão com a referida Luz. Dentre muitas histórias, tivemos também uma outra contada por Seu Mendinho, o qual nos falou de uma experiência que teve ao visitar sua namorada há muitos anos atrás. Ao retornar, à noite, da localidade de Vargem do Bom Jesus, o cavalo percebeu alguma coisa estranha, levantou as orelhas e empacou no alto de um morro. O foi ir puxando o cavalo, disse Seu Mendinho, mas logo adiante a luz de Bota apareceu como um cigarro aceso e depois ficou tão forte que dava para contar quantos pés de árvore havia naquele local escuro. Depois diminuiu o brilho e desapareceu. Hoje, as localidades em que escolhemos os depoimentos já estão passando por um processo um tanto acelerado de urbanização, com muita iluminação, e só as pessoas mais antigas e nativas é que sabem dessas histórias e até mesmo presenciaram o fenômeno da Luz de Bota. Mesmo assim, apesar de tal fenômeno haver rareado ou até desaparecido, como nos disseram alguns entrevistados, vários acontecimentos recentes estão chegando a nosso conhecimento, todos eles relacionados ao avistamento de luzes estranhas. Em agosto de 1999, uma moça nos procurou na Universidade Federal de Santa Catarina para relatar um avistamento noturno que teve no início do mês de julho, juntamente com seu irmão e mais um amigo, na praia de Moçambique, na localidade de São João do Rio Vermelho. Tratava-se de uma luz vermelha e pequena que surgia de um costão e logo a seguir ficava muito grande e brilhante "como se fosse um foguete subindo", disse ela. A luz fazia um vaivém, aumentando e diminuindo o brilho. Todos os três viram o fenômeno por alguns minutos mas depois ficaram com medo e correram para casa. O que era? Ninguém sabe. Para alguns moradores antigos, a Luz de Bota já teria desaparecido e, com isso, nossa Ilha também teria perdido um pouquinho de sua magia. Mas, diante de fatos recentes acontecidos principalmente na praia de Moçambique, fica a pergunta: - A Luz de Bota voltou?
Manto de Nosso Senhor dos Passos
Conta-se que um dia, fruto de uma promessa, um homem teria doado um manto muito bonito à irmandade de Nosso Senhor dos Passos para cobrir a imagem de Nosso Senhor quando da tradicional procissão em sua homenagem. Entretanto, a partir daquela data, toda vez que usava o manto, chovia. Até que deixaram de usar a tal peça e voltaram os dias ensolarados. Acredita-se que Nosso Senhor não aceitara de presente aquela peça porque o doador teria se arrependido do gesto.
Monge
do Arvoredo Existe na ilha do Arvoredo uma Furna de Pedra denominada de Gruta do Monge. Ela tem este nome por ter vivido ali antigamente e por muitos meses um misterioso homem, a qual todos chamavam Monge. Contam
que numa noite de lua cheia apareceu nesta gruta um homem que diziam andava
fazendo Vida Santa. Os pescadores de Ponta das Canas e Canasvieiras que Dizem alguns que ele partiu porque sua tarefa por aqui terminou. O que sobrou até hoje foi a lenda e a gruta que ainda pode ser visitada na Ilha do Arvoredo.
Mula-sem-cabeça
A mula-sem-cabeça é o castigo tremendo da concubina do padre católico. A noite da quinta pra sexta-feira muda-se numa mula, alentada e veloz, correndo com espantosa rapidez, até o terceiro cantar do galo. Seus cascos afiados dão coices que ferem como navalhas. Quem atravessa o seu caminho, despedaça a patadas. Ouve-se de longe o estridor do galope fantástico e as dentadas terríveis com que remoer o freio de ferro que leva à boca espumante e orlada de sangue. Pela madrugada, exausta, recolhe-se cheia de nódoas das pancadas. Volta a forma humana e recomeça o fatídico na outra noite fatídica. Para se descobrir se a mulher é amante do vigário, lança-se ao fogo um ovo enrolado em linha com o nome dela e reza-se por três vezes a seguinte oração:
A mulher do padre Não ouve missa Nem atrás dela. Há quem fique ... Como isso é verdade, assa o ovo e a linha fica...
Se for verdade o ovo fica cozido e a linha sem ser queimada.
Mula, antigamente, tinha o significado de "manceba"; e cabeça o significado de "direção". Daí o termo, Mula-sem-cabeça, a amásia que não era "teúda nem manteúda".
Pedras
de Itaguaçú Onde hoje é a praia de Itaguaçu, existia um lindo gramado onde muita gente ia descansar. Um dia os Elementais resolveram fazer uma linda e grande festa, convidaram todos, os da matas, os dos mares os dos Açores. Lá tinha Bruxas, Boitatá, Saci, Curupira, Lobisomem e outros. Só não convidaram o Tibinga (diabo), pois, ele cheira a enxofre e é muito feio. No dia da festa tudo corria na mais linda paz com bruxas, sacis, lobisomens, todos divertindo-se. Foi quando no meio da festa o Tibinga olha pra baixo e vê aquela festança e se dá conta que não tinha sido convidado. Então exclamou em alto e bom som:
- Não me convidaram, é? - Vou transformar todos vocês em pedras e este campo em mar.
E
lá ficaram todos os
Elementais transformados em
pedras. Quem passar por lá pode ver que
as pedras têm a forma dos elementais.
Procissão das Almas
Dizem que no dia da procissão, não se deve ficar na janela a sua espera, pois ao final dela sempre há alguém que lhe oferece uma vela e convida a que participe do ritual no ano seguinte. Passado o evento guardava-se aquela oferenda enrolada a um pano qualquer. No dia seguinte, se procurada a vela recebida, provavelmente não a encontraria mais e sim, em seu lugar, um osso humano da canela de um esqueleto.
Procissão das Almas II
Esta lenda relata sobre uma velha, que vivia sozinha na sua casa, e por não ter muito o que fazer, nem com quem conversar, passava a maior parte do dia olhando a rua da sua janela, coisa muito comum no interior. Até que numa tarde quase anoitecendo ela viu passar uma procissão, todos vestidos de roupas largas brancas como almas, com velas nas mãos e não conseguia identificar ninguém, ela logo estranhou, pois sabia que não haveria procissão, pois ia sempre a igreja, e mesmo assim quando havia alguma procissão era comum a igreja tocar os sinos no inicio, mas nada disso foi feito. A procissão foi passando, até que uma das pessoas que participavam parou na janela da velha e lhe entregar uma vela, falando que a velha guardasse aquela vela que no outro dia ela voltaria para pegá-la. Com a procissão chegando ao fim a velha resolveu dormir, e apagou a vela e guardou-a. Quando foi de manhã que a velha acordou, ela logo foi ver se a vela estava no local onde ela guardou, mas para sua surpresa no local em vez da vela estava um osso de uma pessoa já adulta e de uma criança.
Sací-Pererê
Negrinho perneta, sempre pulando, capuz vermelho vivo enterrado na cabeça, às vezes fazendo o bem e, muitas outras, o mal. Nas casas, passa a infernizando os afazeres domésticos, queimando a comida, apagando o fogo no meio de uma fervura, escondendo coisas, batendo portas e entornando líquidos. No campo, abre porteiras, espanta a criação e o gado, dispara cavalos, nos quais se compraz em traçar crinas e caudas em emaranhados difíceis de destrançar. Este personagem, visível ou invisível, sempre soltando irritantes assobios e pulando, mais conhecido no sul (também em Portugal), traz em si elementos de diferentes crenças como, por exemplo, do Kilaino, duende que, segundo registro, é "ente maléfico que mora no mato ou nos morros, assume formas diferentes (...) respondendo aos gritos de uma pessoa e gritando para transviar quem anda no mato.
Santa Achada
Foi encontrada uma imagem, pelos escravos, no cafezal do Campeche. Para saberem se a imagem era de santo ou não, pediram para que ela, se fosse santa, pulasse para dentro do balaio e aconteceu! A imagem que eles acharam pulou para dentro do balaio, comprovando sua santidade. Que santo era? Qual era o nome? Ninguém sabia. Até padres foram consultados e nada. Não sabiam a que santo a imagem representava. Assim passaram a chamar a imagem de Santa Achada, ganhou oratório e até promessa se pagava para a imagem da Santa Achada.
Santo Viático
Quando
havia alguém moribundo, o santo viático passava solene indo até a
casa da pessoa e a cantoria das "incelenças" entristecia
ainda mais as pessoas e "...Mãe de Deus rogai a Deus pôr
ele", ecoava a noite inteira na vigília do velório. Acreditava
que o choro vinha de dentro do caixão indo para o cemitério.
Sete-Cuias
Contavam os pescadores de Sambaqui e Ponta Grossa que, no pontal dos Ratones, por eles considerado assombrado, noite velha, se ouvirem rufos de misteriosos tambores e ali também costuma aparecer um vulto negro a pedir, por acenos, passagem aos canoeiros que se avizinham e perlongam aquela estirada língua de areia. Acontece que, ao embarcar a estranha e silenciosa figura, a canoa se torna de tal maneira sobrecarregada, que não mais avança apesar das fortes e continuadas remadas do tripulante, começa a encher-se d'água e afundar. Nessa ocasião o malvado negro, que é apelidado de sete-cuias dá uma pavorosa risada e desaparece, deixando o mísero canoeiro a debater-se nas ondas.
Visão
Lá
pelos lados da Ponte do Vinagre as lavadeiras reuniam-se para lavar suas
roupas. Existia
uma entre elas que apontando para o morro da Cruz dizia:
- Um dia lá no alto nasceram arvores de ferro. O
que será que ela via? Seriam as antenas de Tv que hoje existem lá?
Assombração Baseado no texto de Glecy Coelho (Peninha)
Sentados em círculo, no pastinho do seu Arthur da dona Margarida, lá perto de casa, era hábito a gurizada no fim da tarde, até o anoitecer; brincar de contar estórias. Cada um tinha que contar uma estória. Eram teatralizadas, as mãos, a cara e o corpo todo desenhavam no ar o enredo.
- Quem será que vai contar a estória mais impressionante?
Até
hoje não esqueci mais aquela chamada: Olhos
Verdes, contadas pelo Vado. Deus me livre, não dormi mais
naquela noite e por muito tempo fiquei com medo de abrir a porta depois
das seis horas da noite, pois lá fora vagavam aqueles olhos verdes,
apenas os olhos, sem a cabeça. Depois,
apareciam outros fenômenos sem explicação, como aquela luz que pulava
pelo ar como quem joga um caco de telha sobre a água parada. A gente
chamava esta brincadeira de "Peixinho Rei", quando o caco de
telha raspava a superfície da água. Mas a luz clara, pulava nas
alturas. Aquela luz se repetia em algumas noites estreladas. Não era
relâmpago. Não era nada então, mas foi espantoso. Também
assustou toda a gente, as unhas compridas que apareceram nos cabelos da
Dalva, emaranhando toda a cabeleira negra e longa. Diziam que aqueles
eram os mais belos cabelos jamais vistos. Numa madrugada, Dalva, aos
berros, acordou toda a redondeza, pois seus cabelos estavam crivados de
unhas grandes, massarocando toda a longa cabeleira. Só cortando os
cabelos foi possível retirar aquelas unhas. Simplesmente unhas, sem
dedos. Foi embruxamento! O medo
trancava todas as pessoas dentro de casa a rezar de joelhos em frente ao
oratório onde ficavam as imagens dos santos. Nas
sextas-feiras, depois das horas mortas, em noites de lua cheia, ouvia-se
grunhidos e o barulho de correrias pelo mato. Era lobisomem!
O grunhido pavoroso, lembrava aqueles que faz uma porca quando está no
cio. Quem nunca ouviu, não sabe o que é um arrepio. Na chácara da dona Orlanda, aparecia a cabeça de fogo. Corria sem ter pernas. Uma grande cabeça peluda e redonda com uma bocarra repleta de dentes afiados e com olhos flamejantes. Voava por baixo das árvores, daqui para ali e desaparecia mergulhando nos cafezais. Eu acreditava que eram índios assustando os invasores de suas terras tradicionais, onde havia algo considerado sagrado para eles. Na
rua da Olaria tinha uma benzedeira, a dona Martinha. O altarzinho
carregado de um tudo e santos, fitas, velas em profusão. Seu
Alcides era um famoso curandeiro com poderes de curas milagrosas. Creio
que ele era santo. Andava sorridente na boleia da carrocinha, vaidoso
usando chapéu. Dona
Aninha sabia tudo sobre os usos das ervas. Tanto para o alivio e curas,
quanto para o prazer. As vezes voava. Tinha alguma coisa invisível que
a impulsionava, esvoaçando as saias. As
doenças eram aliviadas e até curadas com a ajuda de simpatias e
benzeduras. Para
a asma: Levar a pessoa doente na beira de um rio. Pegar um peixe e
fazer o asmático cuspir na boca do bicho, depois soltá-lo novamente
no rio. Rezar e pedir para que o peixe leve para bem longe aquela doença." Contra
mal olhado e embruxamento,
há muitos recursos e remédios. Na entrada da casa deve-se plantar
arruda, alecrim, espada de São Jorge, bambú-salão, guiné e
comigo-ninguém-pode. Uma ferradura pregada na parede na entrada da casa
atrai a sorte para as pessoas da morada e dentro dela, atrás da banda
da porta ou da janela, desenha-se a estrela do Rei Davi ou a do Rei
Salomão. Queimar palha de alho purifica e espanta bruxas e olho gordo.
Suspeite das mariposas e borboletas noturnas, mas as bruacas podem se
transformar também em ratos, baratas, aranhas, cobras, pulgas, moscas e
mosquitos. Metamorfoseiam-se até em piolhos e carrapatos. O remédio é
a limpeza e também um breve pendurado no pescoço. Um amuleto sempre é
bom. Leve escondido, não mostre a ninguém. Nem deixe ninguém tocá-lo. Tudo
é cheio de estranhezas. Já sabia do diabinho
que o São Nicolau soltava nas noites de natal para que ele pegasse
crianças malvadas. Estas não ganhavam presentes, nem balas, doce
nenhum. Também
era preciso ficar escondido dos ciganos.
Eles roubavam crianças e moças. Depois
começavam a aparecer mascarados medonhos, assustando, correndo atrás
das pessoas, agarrando, derrubando a gente no chão. Invadiam as casas e
na cozinha comiam à vontade. Era de meter medo. Vinha
o tempo do entrudo e jogavam água e farinha em quem passava pelas ruas. Agora
é quaresma e não se podia sair à noite, pois as bruxas,
boitatás, saci-pererês,
lobisomens, mulas-sem-cabeça
andavam todos soltos a perseguir pessoas quando passavam por alguma
encruzilhada de estradas. Dentro
do redemoinho tinha um demônio perigoso. Nos costões das praias
moravam sereias que encantavam os
pescadores e os carregavam para o fundo do mar. Na
cachoeira da lagoa do Anjo, aparecia uma boiguaçú
com o corpo todo cheio de olhos brilhantes como diamantes. Ofuscava quem
para ela olhasse e devorava os olhos das pessoas e dos bichos. No
mato do Dante, um curupira
assobiava a noite toda e, no mato dos padres, um caipora
andava montado numa onça negra, soltando faíscas pelos olhos verdes
como lanternas de vaga-lume. Os
meninos perseguiam vaga-lumes cantando:
“Cai,
cai, vaga-lume cai, cai, que
o teu pai já vai com um chicote na mão para te bater. Cai,
cai, vaga-lume cai, cai, o
teu pai caiu, tua mãe não viu e o filho fugiu ligeiro a correr. Vaga-lume cai, cai. Vaga-lume cai, cai...”
Na
Semana Santa não podíamos brincar de quilica (bolinhas de vidro), pois
não se podia cavar a terra para fazer a boca. Cavando a terra poderia
brotar sangue daquele buraco. Tinha
a Procissão do Encontro e a do Senhor Morto na Sexta-Feira Santa solene
e sofrida ao som das matracas. Acreditava-se que elas serviam para
espantar os maus espíritos. Rezava-se muito, pois Cristo está morto e
os cristãos ficavam desamparados. Todos os santos eram cobertos com
panos roxos. Antes
do sol nascer na Sexta-Feira Santa, íamos ao riacho lavar o corpo e
recolher água para ser usada como remédio. A água recolhida nesta
madrugada tem poderes miraculosos. No
sábado se castigava o traidor através de um espantalho que simbolizava
o Judas. Os bois bravos representam os pagãos, o próprio Diabo.
Mostrando coragem e proteção da fé nos santos, as pessoas desafiavam,
perseguiam, sacrificavam o animal, distribuindo a carne para ser
devorada. Padre,
mulher grávida e banana azaram a pescaria. Matar currequinha era pecado
mortal, pois ela viu Jesus nascer. Mas os rabos de palha, corujas,
urubus e morcegos quando pousavam no telhado traziam mal agouro,
prenunciavam alguma morte. Quando
havia alguém moribundo, o Santo
Viático passava solene indo até a
casa da pessoa e a cantoria das "incelenças" entristecia
ainda mais as pessoas e "...Mãe de Deus rogai a Deus pôr
ele", ecoava a noite inteira na vigília do velório. Acreditava
que o choro vinha de dentro do caixão indo para o cemitério. A
árvore do enforcado no alto do
morro era imponente. Derrubaram a grande árvore e, em seguida,
abateu-se uma tempestade. A chuva foi tanta, que o morro quase derreteu
inteiro. Esparramou-se todo em lama e escombros de galhos e pedras. Uma
vela, em determinadas noites, surgia no ar acesa. Dirigia-se até um
ponto junto da muralha e ali se apagava. Um
casebre foi derrubado e, no lugar, uma boa casa foi construída. Nela não
mora ninguém, pois a alma do morador do casebre que foi derrubado
aparece exigindo sua moradia de volta. Outra
vez foi a aparição do dragão marinho,
uma serpente monstro que foi fisgada pelo anzol do seu Lupércio. Em
determinadas noites, no quarto onde o seu Oscar morreu, fica tudo
revirado, de pernas para o ar. Ninguém fica naquele quarto e a casa
toda acabou sendo abandonada. Não houve reza que parasse a maldição.
Tantos casos, tantos mistérios. Uma imagem
foi encontrada
pelos escravos no cafezal do Campeche. Para saberem se a imagem era de
santo ou não, pediram para que ela, se fosse santa, pulasse para dentro
do balaio e aconteceu! A imagem que eles acharam pulou para dentro do
balaio, comprovando sua santidade. Que santo era? Qual era o nome? Ninguém
sabia. Até padres foram consultados e nada. Não sabiam a que santo a
imagem representava. Assim passaram a chamar a imagem de Santa
Achada, ganhou oratório e até promessa se pagava para
ela. Outra
estória é a da imagem do Santo Amaro.
Muito antiga, resolveram substituir por uma imagem nova e guardaram a
antiga. No outro dia a imagem pequena de madeira apareceu no altar junto
com a imagem nova. Tiravam e a imagem retornava. Resolveram levar a
imagem antiga para a ilha do Xavier. Assim foi feito. No outro dia
encontraram a porta da igreja aberta e o rastro de areia dos pequenos
pezinhos do Santo Amaro que teimoso voltou para o altar ficando ao lado
da imagem nova. Uma
cobra coral picou a Conceição. Ela morreu. Anos depois encontraram na
sepultura da moça o corpo intacto, dizem que a sepultaram na parede da
igreja. Era uma moça muito devota de Nossa Senhora da Conceição.
Havia nascido no dia da Santa e recebido o mesmo nome. Junto
ao tronco do araçazeiro, ouvem-se estampidos e muito choro. São as
almas dos sacrificados na ilha de Anhatomirim, lamentos impotentes. A
estória do lobisomem que
é o próprio marido metamorfoseado atacando a esposa, rasgando a saia
de baeta vermelha. Depois ela descobre tratar-se do próprio marido,
conclusão alcançada por encontrar, entre os dentes dele, fiapos da sua
saia que o bicho havia rasgado." Os
segredos do Padre Doutor, o misterioso
boitatá
do morro do Rapa, as marcas dos pés de São Thomé deixadas
impressas nas pedras. A serpente e a orquídea encantadas na Pedra
Branca. Uma
mulher tinha uma trança ruiva de uns três metros de comprimento. Muito
alta, andava com a grossa e longa trança enrolada pelo corpo. O
Miguelinho que usava um chapéu sobre o outro e tinha uns seis chapéus.
A Maria Agulha, negra magra imponente, provocando constantemente
algazarras e estripulias, perseguida por toda a rapaziada. O João
Pretinho, o amor de toda a cidade. O Parreira, estranho vendedor de
peixes. O Vão, uma porção de gente envolta em mistérios de existência. As
lavadeiras na carioca, contavam e cantavam. A concentração de mulheres
era um confessionário. Ali se falava de tudo e puxavam rezas e
cantigas. Em
seguida já era dia de Santo Antônio. As gurias emborcavam o santo na
água do poço. Amarravam o santo pelos pés. Tiravam o menino do colo
da imagem do santo. Enfiavam faca virgem na bananeira a meia noite para
saber o nome da pessoa com quem se casariam. Na
véspera do dia de São João, à meia noite, coloca-se uma oferenda em
frente a um espelho que deverá revelar o rosto da pessoa com quem se há
de casar ou então, poderia aparecer a cara do próprio diabo. São
Pedro era homenageado com procissão, cantoria e foguetório. Ele tem as
chaves do céu. Ele é quem decide quem entra no céu. E preciso ser
amigo do santo, poderás precisar dele para entrar no reino da glória,
no paraíso celestial. Finados.
A gurizada fazia caveiras com mamão verde, colocavam uma vela acesa
dentro e deixavam em lugares estratégicos. Na noite da véspera de
finados, fechava-se toda a casa. Não
se podia olhar para a rua, pois era possível ver a procissão das
almas. Quem visse, seria convidado para participar da procissão do próximo
ano. A pessoa que olhar a procissão receberão uma vela acesa que se
transformará num osso da canela do esqueleto. Passar
com os pés em cima de sepultura dá azar. Apontar estrelas faz aparecer
verrugas nos dedos. Tem mascarado novamente. Diziam, à boca pequena, que os antigos que vieram de longe para morar neste lugar; muitos deles tinham secretamente parte com os seres das profundezas."
Depoimento
Medo de assombração, eu não tinha. Tinha
muito respeito. A
rede enrolou toda...tinha peixe, mas não deu.
Poranduba Catarinense. Boiteux, Lucas A. Edição da Comissão Cat. de Folclore, Florianópolis, 1957. Depoimento: “Vozes da Lagoa”. Ourofino, Bebel e Borges, Elaine Domínio público |
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