Um enfoque sócio-econômico Nesta seção vamos conhecer um pouco da pesca artesanal na Ilha de Santa Catarina. Um assunto vastíssimo e de grande importância para a cultura local. Pois, entre todos os aspectos que permitiram a fixação do homem à terra, a atividade pesqueira de subsistência foi fundamentalmente a que mais contribuiu. O homem açoriano encontrou aqui provavelmente a décima ilha do Açores, a de Santa Catarina. Até os peixes de lá haviam cá! Homens simples que quando chegaram à ilha não conseguindo viver exclusivamente da terra, passaram a desenvolver no mar uma outra atividade, a pesca. Enfoque histórico
No
período de 1748 a 1756 desembarcaram em Santa Catarina cerca de seis
mil imigrantes, em sua maioria açorianos. Além das terras, o governo
português tinha prometido dar auxílio financeiro a cada casal,
incluindo transporte gratuito, armas, ferramentas, animais, farinha e
isenção do serviço militar. Mas ao chegar, os imigrantes receberam
pouco do que havia sido prometido, além de estarem sujeitos ao
recrutamento e ao confisco de alimentos. No
século XIX, as diferenças entre Nossa Senhora do Desterro e as demais
freguesias no interior da Ilha ficaram ainda mais evidentes. As
freguesias se voltaram para o mercado interno, abastecendo a população,
as tropas e as embarcações em trânsito. Elevada à categoria de
cidade em 1823, Desterro era marcada por uma forte expansão urbana e
comercial, escoando os produtos do interior através do principal porto
de Santa Catarina. Dessa
forma, a agricultura foi aos poucos se tornando uma atividade de menor
importância e já na primeira metade de século XX, muitos lavradores
tinham se incorporado definitivamente à pesca. Aqueles que insistiam na
lavoura tinham que enfrentar o empobrecimento do solo, esgotado após
duzentos anos de plantio, e a falta de novas terras, ocupadas pela
expansão urbana. Em sua maioria, os lavradores mais antigos venderam
suas terras para se tornarem donos de rede. Aos mais jovens ou com menos
recursos restou o trabalho sazonal como camarada.
Peixes Algumas espécies da Ilha
ARRAIA
ANCHOVA (ENCHOVA) (Pomatomus saltator)
Tralha:
Varas de ação média
ou pesada, linhas de 10 a 20lb, iscas artificiais (plugs de meia água,
colheres, jigs e lambretas).
BADEJO (Mycteroperca spp)
Tralha:
Varas de ação média ou pesada, linhas de 17 a 50lb, líder com linha
mais grossa, anzóis de 5/0 a 10/0, iscas naturais (peixes inteiros ou
em pedaços), iscas artificiais (jigs, plugs de meia água, shads, grubs
e camarões).
BAGRE (Bagre spp)
Tralha:
Varas de ação média ou pesada, linhas de 8 a 25lb, anzóis de 1/0 a
6/0, iscas naturais (sardinha, camarões, lulas e moréias).
CAÇÃO (TUBARÃO-FRANGO) (Carcharrhinus spp, Sphyrna spp)
Tralha: Varas de ação média ou pesada, anzóis de 3/0 a 8/0, encastoador, linhas de 10 a 25lb, iscas naturais (sardinhas, betaras, bonito e atum).
CARANHA (Lutjanus griseus)
Tralha: Varas de ação média ou pesada, linhas de 17 a 50lb, anzóis de 2/0 a 10/0, iscas naturais (peixes da região), iscas artificiais (plugs de meia água e jigs).
CAVALA (Scomberomorus cavala)
Tralha: Varas de ação média ou pesada, linhas de 10 a 25lb, anzóis de 2/0 a 6/0, iscas naturais (peixes e lulas), iscas artificiais (plugs de meia água, jigs e lambretas).
CAVALINHA (Scomberomorus cavala)
CORVINA (Micropogonias furnieri) Tralha:
Varas de ação leve e média, linhas de 8 a 14lb, anzóis de 1/0 a 4/0,
iscas naturais (camarão).
ESPADA (Epinephelus guaza)
GAROUPA (Epinephelus guaza) Tralha:
Varas de ação média
ou pesada, linhas de 20 a 70lb, anzóis de 6/0 a 12/0, iscas artificiais
(plug de barbela longa [crankbaits] e jigs), iscas naturais (sardinhas,
bonito e atuns).
LINGUADO
MERO (Epinephelus itajara)
Tralha: Equipamentos de pesca oceânica ou pesada, linhas acima de 50lb, anzóis acima de 8/0, iscas naturais (peixes inteiros da região).
OLHO-DE-BOI (Seriola dumerili)
Tralha: Varas de ação média/pesada ou pesada, linhas de 20 a 50lb, anzóis de 5/0 a 10/0, iscas naturais (peixes em pedaços), iscas artificiais (plugs de meia água e superfície, colheres e zigue-zagues).
PAMPO (Trachinotus spp)
Tralha: Para a pesca de praia, varas com o dobro da altura do pescador, linhas de 10 a 12lb, chicote comprido, anzóis de haste curta e o colo maior, iscas naturais (pequenos peixes da região, camarão, corrupto, mexilhões sem casca, cernambi e tatuíra).
PAPA-TERRA (BETARA) (Menticirrhus americanus)
Atinge:
60cm de comprimento e 1,5kg. Tralha: Equipamento de ação leve; linhas de 6 a 10 lb.; anzóis pequenos de n° 12 a 16. Como a boca desse peixe é voltada para baixo, as pernadas devem manter os anzóis bem perto do fundo. Somente iscas naturais (camarão, corrupto e moluscos). Pode ser capturado tanto de dia como de noite. Nas pernadas deve-se utilizar somente fio de nylon.
PESCADA (Cynoscion spp)
Tralha:
Varas de ação média/pesada, linhas de 14 a 25lb, empate, iscas
naturais (camarão vivo, maniubas e moréias).
PREJEREBA (Lobotes surinamensis)
Atinge:
0,80m de comprimento e 15kg. Tralha: Varas de ação média/pesada, podendo der utilizado material de fly (número 7 ao 10), linhas de 10 a 25lb, anzóis de 1/0 a 6/0, iscas artificiais (streamers , plugs de superfície, meia água e jigs), iscas naturais (peixes da região).
ROBALO (Centropomus undecimalis e Centropomus paralellus)
Tralha:
Varas de ação média/pesada, linhas de 14 a 25lb, líder (2m), iscas
naturais (camarão e peixes), iscas artificiais (plugs, de superfície e
meia água, jigs e shads).
SARDINHA (Sardinella brasiliensis)
SOROROCA (Sardinella brasiliensis)
TAINHA (Mugil cephalus) Tralha: Varas de ação leve, anzóis de 14 a 20, linhas de 8 a 14lb, bóia especial para tainha, iscas naturais (miolo de pão e algos verdes).
VIOLA (Rhinobatos percellens)
XARÉU (GUARACEMA) (Caranx hippos)
Tralha: Varas de ação média ou média/pesada, podendo ser utilizado equipamento de fly (número 5 a 10), linhas de 10 a 25lb, anzóis de 1/0 ao 6/0, iscas artificiais (jigs e plugs de meia água ou superfície, streamers e poppers no fly), iscas naturais (sardinhas, paratis e tainha).
Os peixes de praia mais comuns são a Betara, o Carapicú e a Corcoroca, e as iscas preferidas são o camarão e a minhoca da praia (ou da areia).
XERELETE (CARAPAU) (Caranx crysos)
Atinge:
0,8m de comprimento e 8kg. Tralha:
As iscas preferidas são as naturais (pequenos peixes, crustáceos e outros invertebrados, inclusive bentônicos).
Pesqueiros
São locais, em uma determinada região, onde há maior concentração de peixes. Com a tralha adequada, no horário certo e com a maré ideal, o pescador terá também o melhor local para realizar o seu divertimento.
de praia
1. Daniela; 2.Jurerê; 3.Canasvieiras; 4.Cachoeira do Bom Jesus; 5. Ponta das Canas; 6. Lagoinha; 7. Praia Brava; 8. Ingleses; 9. Santinho; 10. Moçambique; 11. Barra da Lagoa; 12. Galheta; 13. Praia Mole; 14.Joaquina; 15.Campeche; 16.Morro das Pedras; 17. Armação; 18. Lagoinha do Leste; 19. Pântano do Sul;
de costão
2. Jurerê
(Forte de São José da Ponta Grossa) -
Miraguaias e Burriquetes;
8. Ingleses
-
Pampo (à esquerda) e Robalos (ambos os lados); 13/14. Ponta do Gravatá - Anchovas, Robalos, Garoupas e Marimbaus; 14.
Joaquina
- Robalos, Anchovas, Pampos e Burriquetes;
A pesca embarcada, principalmente com iscas artificiais, tem vários "points" nas proximidades dos costões acima e, ainda, em ilhas e parcéis próximos: -
Ilha do Francês (em Canasvieiras)
As iscas mais indicadas para cada espécime: -
Anchova -
corrupto, manjuba
As iscas artificiais mais eficientes são: -
de meia água -
Bomber, Rapala Shad Rap e Countdown, Yozuri
Quanto às épocas de cada espécime, podemos considerar: -
O Robalo
está mais ativo durante o verão -
Canhanha: de outubro até
meados de dezembro
Tábua das Marés: Consulte: http://www.mar.mil.br/~dhn/tabuas/TabuasMare.htm
Condições Climáticas: Consulte: http://www.mar.mil.br/~dhn/infmeteo.htm
O Peixe Fresco
SABER
RECONHECER, ESCOLHER E CONSERVAR
AS TRÊS FORMAS PARA ESCOLHER UM PEIXE FRESCO
A menos que o peixe ainda esteja realmente vivo, ao comprá-lo é importante observar alguns detalhes que indicam seu estado de conservação. De uma forma geral, o aspecto externo de um peixe fresco deve ser muito semelhante ao do peixe vivo. Através da simples utilização de seus sentidos, em três etapas, é possível identificar se o peixe está ou não fresco.
Tato:
o corpo do peixe deve estar firme e
resistente com o ventre normal, nem murcho nem inchado. A rigidez cadavérica
é um excelente indício de que o peixe morreu a pouco tempo (observe
porém, se a rigidez não é devido a um congelamento anterior). Visão:
o olho, do peixe, deve estar brilhante com a
pupila negra e a íris branca ou amarelada (olhos esbugalhados e turvos
indicam deterioração). As brânquias devem estar vermelhas ou rosadas
(a coloração pálida e o aspecto viscoso também indicam deterioração).
CONSERVAÇÃO
Um peixe recém-capturado resistirá melhor se deixarmos suas escamas e o muco que as envolve íntegros e retirarmos todas as vísceras. Independente do gelo para conservação. Para um bom congelamento, o peixe deverá ser completamente limpo um pouco antes. O método de captura exerce grande influência na deterioração do pescado. Em geral, os peixes capturados com anzol ou arpão resistem mais tempo, enquanto aqueles capturados com o uso de determinadas redes de pesca resistem menos tempo, devido, principalmente, ao longo tempo de permanência na água (o pescador costuma deixar sua rede na tarde de um dia e recolhê-la na manhã do outro dia). Além disso, uma demorada exposição ao sol propicia a rápida deterioração, especialmente para aqueles peixes que vivem no fundo ou próximo dele (com a coloração mais escura).
QUALIDADE
A carne do peixe fresco é considerada uma das melhores no tocante à facilidade de digestão e valor nutritivo. Com relação ao sabor e qualidade de sua carne, o que influi diretamente em seu preço no mercado, os peixes podem ser divididos em quatro grupos básicos, relacionados a seguir.
1a
Classe: Abrótea, Badejo, Cherne, Linguado, Merluza, Namorado e
Robalo. 2a
Classe: Albacora, Atum, Cioba, Dourado, Enchova, Espadarte, Garoupa,
Marlim, Mero, Michole, Pargo, Pescada, Sargo-de-dente, Tira-vira, Trilha
e Viola. 3a
Classe: Batata, Baúna, Bicuda, Bujupirá, Bonito, Cação, Caranha,
Cavala, Corvina, Goete, Olhete, Olho-de-boi, Olho-de-cão, Pampo,
Pescadinha, Pirá, Piraúna, Raia, Sargo-de-beiço, Sernambiguara,
Serra, Sororoca, Tainha, Vermelho, Xaréu, Xerelete e Xixarro. 4a Classe: Bagre, Baiacu, Carapicu, Cavalinha, Coco-roca, Congro, Galo, Espada, Manjuba, Moréia, Parati, Peixe-porco, Pirangica, Sardinha e Ubarana.
Existem duas situações onde o consumidor pode ser facilmente enganado. Uma é quando pede um peixe em um restaurante, baseando-se no cardápio. A outra é quando o compra em uma peixaria baseando-se apenas na placa de identificação e preço. Até prova em contrário todos são honestos. No entanto, é sempre bom estar atento para evitar os "enganos". Em alguns restaurantes, por falta ou por puro oportunismo, o que no final dá na mesma, é comum servir o filé de cação no lugar do filé de badejo, que consta no cardápio. Apesar do filé de cação, quando bem preparado, ser também muito gostoso, trata-se de uma atitude extremamente desonesta. Apenas mais uma dentre as muitas formas de lesar o consumidor. Assim, nos restaurantes desconhecidos é aconselhável pedir um peixe em posta ou, de preferência, aqueles normalmente servidos inteiros, como o linguado, o pargo e a truta. Na compra do peixe nas peixarias, por sua vez, o engano pode acontecer nas três formas em que se compra um peixe: em filé, em posta ou inteiro. Nos três casos, quando não se tem certeza da honestidade do dono da peixaria, a atenção deve ser redobrada. No caso do filé, pode ocorrer o mesmo problema citado anteriormente. É quase impossível saber identificar de que peixe foi tirado um filé já exposto, a não ser que o mesmo possua a carne com uma coloração particular, como a do Atum que é vermelha. Não sendo assim, o aconselhável é comprar o peixe inteiro e pedir para filetá-lo. No caso da posta, o máximo que se consegue é diferenciar o peixe ósseo do peixe cartilaginoso examinando o aspecto da coluna vertebral. Se for dura e brilhante é com certeza uma posta de peixe ósseo. Se for mole e opaca é de um peixe cartilaginoso como o cação. O conselho é o mesmo; compre o peixe inteiro e mande cortar em postas. Comprar o peixe inteiro é então a melhor opção? É, se você souber reconhecer o peixe que quer comprar. Em algumas peixarias também existe a possibilidade de se levar um peixe inteiro diferente daquele que pedimos ou mesmo daquele que consta na plaqueta de identificação e preço. Pode parecer um absurdo, mas este é um fato bastante corriqueiro, inclusive nas peixarias dos grandes supermercados. Isto ocorre devido à conjunção de dois fatores: a desonestidade das peixarias, de forma intencional ou inocente __ em alguns casos a troca já está tão arraigada que algumas peixarias nem sabem que estão enganando __, e a falta de conhecimento dos consumidores, incapazes de diferenciar corretamente a espécie do peixe que realmente desejam.
Exemplos mais comuns:
Batata (Lopholatilus villarii) no lugar do Namorado (Pseudopercis numida). Algumas peixarias vendem o batata com o "sugestivo" nome de Namorado-batata. Batata - Dorso castanho-escuro, clareando para os flancos. Cabeça e dorso com manchas arredondadas e amareladas. Faixa clara longitudinal abaixo da nadadeira dorsal. Caudal e dorsal escuras com manchas claras. Namorado - Dorso mais escuro, um pouco enegrecido. Pintas brancas arredondadas em todo o corpo. Dorsal enegrecida com margem clara.
Goete (Cynoscion jamaicensis) no lugar da Pescada (Cynoscion acoupa). Goete
- Dorso prateado com estrias oblíqüas
escuras. Nadadeira peitoral escurecida. Pescada
- Dorso prateado sem estrias. Peitoral clara com
uma mancha escura arredondada em sua base. Margem da nadadeira caudal
enegrecida. Cavala - Coloração geral semelhante, porém sem manchas bronzeadas (a não ser nos espécimes mais jovens) e sem a dorsal enegrecida.
Ubarana (Elops saurus) no lugar do Robalo (Centropomus undecimalis). Ubarana - Focinho curto e arredondado. Uma nadadeira dorsal situada no meio do corpo. Dorso cinza-azulado. Robalo - Focinho longo, afilado e pontudo. Duas nadadeiras dorsais. Dorso cinza-esverdeado. Linha lateral escurecida e bem evidente.
Vermelho (várias espécies do gênero Lutjanus) no lugar da Cioba (Lutjanus analis). Devido ao prestígio de sua carne, muitas peixarias "adotam" o nome da Cioba para as outras espécies da mesma família. Vermelho - As várias espécies apresentam uma coloração geral avermelhada (vai do vermelho-vivo, passando por tons esverdeados ou acinzentados, até o vermelho-rosado). Cioba - Dorso esverdeado. Flancos e ventre rosados. Uma grande mancha negra arredondada situada acima da linha lateral e abaixo dos raios da nadadeira dorsal. Duas estrias azuladas irregulares no focinho.
www.cce.ufsc.br/~pescador/hdaterra.html GUIA AQUALUNG DE PEIXES - Guia prático de identificação dos Peixes do Litoral Brasileiro, Marcelo Spilman - biólogo marinho |