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Notícias da Madeira

            

Curiosidades interessantes de além mar

                

          

  

Fábricas de Espremer ou Engenhos

          

Existem atualmente na Madeira 51 fabricas de espremer cana doce, sendo 10 no conselho do Funchal, 3 no de Câmara de Lobos, 2 no da Ribeira Brava, 7 no da Ponta do Sol, 8 no da Calheta, 1 no do Porto Moniz, 6 no de S. Vicente, 7 no de Sant' Ana, 4 no de Machico e 3 no de Santa Cruz. Destas fábricas, só duas se acham habilitadas a produzir açúcar em larga escala, tendo a montagem duma delas sido ultimada no corrente ano.

Das 51 fabricas que laboraram enquanto vigorou o regime sacarino estabelecido pela lei de 24 de Novembro de 1904 e decreto de 11 de Março de 1911, 49 só destilavam aguardente a 26° Cartier, destinada toda ao consumo publico da Madeira, tendo estado a cargo das duas restantes, as únicas matriculadas, o fabrico do açúcar e do álcool a 40º destinado ao tratamento dos vinhos.

O primeiro engenho para espremer cana doce que existiu na Madeira foi construído em 1452, mas em 1590, quando Frutuoso escreveu as Saudades da Terra, havia para cima de 30 engenhos disseminados pela ilha, a pesar de já a esse tempo a indústria sacarina apresentar sintomas de decadência entre nós. Em 1730, segundo refere Soares da Silva nas Memorias para a historia del-rei D. João o I, havia poucos engenhos na Madeira, calculando o Dr. Azevedo que a indústria sacarina desaparecesse inteiramente da ilha em 1748, em razão de não poder continuar a suportar a concorrência dos açucares americanos, que de há muito vinham invadindo os mercados europeus, onde eram vendidos por baixos preços.

Quando Bowdich visitou a Madeira em 1823, fabricava-se aqui uma quantidade insignificante de açúcar, e em 1826 havia um único engenho em toda a ilha, tendo Severiano Ferraz (V. este nome) procedido á construção dum outro no ano imediato, o qual ficou concluído em 1828. Em 1851 havia quatro fabricas na Madeira (Harcourt, Sketch of Madeira) e em 1856 dez no Funchal e 18 em toda a ilha, todas para destilação de aguardente (White, Madeira its climate and scenery).

Em 1861 contavam-se 29 fabricas em toda a ilha, cinco das quais manipulavam açúcar, e em 1872 dizia o Dr. Azevedo nas notas as "Saudades da Terra" que se conheciam aqui sete fábricas a vapor, e delas cinco em construção, e uma a construir; nove engenhos movidos a água; e alguns pela força de bois»; produzindo as primeiras, açúcar e aguardente, esta consumida quase toda no país.

Em 1900 o número de fábricas subia para 49, distribuídas da seguinte maneira: 11 no Funchal, 2 em Câmara de Lobos, 10 na Ponta do Sol, 7 na Calheta, 5 em S. Vicente, 7 em Sant' Ana, 4 em Machico e 3 em Santa Cruz, mas destas fábricas somente três manipulavam o açúcar, que eram as de W. Hinton, no Torreão, a de Silva Manique (outrora Severiano Ferraz) na Ponte Nova, e a de José de Faria & C.a, em S. Martinho. Anteriormente tinham produzido também algum açúcar as fábricas de Vitorino Ferreira Nogueira, em S. Martinho, a de Wilbraham, na Ponta do Sol, a de Diogo Frasão, no Arco da Calheta, e a de Ornelas Frasão, em Santa Cruz.

Tendo W. Hinton adquirido por compra a fábrica da Ponte Nova e os maquinários de outras destinadas á produção do açúcar, ficou desta sorte senhor absoluto duma das mais ricas indústrias da ilha, acabando por conseguir do Governo a publicação de uma lei, segundo a qual somente fábricas matriculadas era permitido manipular aquele produto e o álcool destinado ao tempero dos vinhos.

Apesar de serem duas as fábricas matriculadas, a de W. Hinton e a de José Julio de Lemos, esta ultima foi sempre a bem dizer uma dependência da primeira, acabando os seus atuais proprietários por arrendá-la a Hinton por 25 contos anuais até 31 de março de 1919, com a cláusula de prorrogação se o regime sacarino de 1911 fosse também prorrogado pelo Governo.

Das fábricas existentes, a do Torreão é a mais notável, podendo mesmo dizer-se que é o mais importante estabelecimento industrial do distrito do Funchal e no seu gênero, um dos mais perfeitos de todo o mundo, visto o seu poder de produção atingir 500 toneladas de cana em vinte e quatro horas.

A fábrica de José Julio de Lemos é de capacidade muito inferior á do Torreão e só tem fabricado álcool, mas é também um estabelecimento importante, tendo melhorado as suas instalações e possuindo poderosos geradores de vapor do tipo Babcock & Wilcox.

Quanto ás fábricas de aguardente, nada oferecem de notável, tendo assinalado o Sr. engenheiro Vitorino José dos Santos no Boletim do Trabalho Industrial, de 1913, que a destilação se exerce nelas em geral em alambiques de trabalho contínuo, sendo as mesmas fábricas - na sua grande maioria, servidas no movimento e destilação por geradores de vapor, com exceção de 5 fábricas no conselho da Ponta do Sol, 4 no de S. Vicente e 5 no de Sant' Ana, onde essa destilação se pratica pela ação do fogo direto.

No dia 23 de março de 1873 teve lugar a instalação da fábrica denominada de S. João, pertencente à Companhia Fabril de Açúcar Madeirense. Esse estabelecimento, dotado dos melhores aparelhos que então se podiam obter, teve sempre uma vida atribulada, acabando por sobrar, em virtude da guerra desleal e vergonhosa que lhe moveram os seus inimigos. Para se formar uma idéia da maneira como foi conduzida essa guerra, bastará dizer-se que houve um ano em que uma boa parte da garapa produzida na fábrica foi cair no leito da ribeira de S. João e que por várias vezes se tentou inutilizar os cilindros que esmagavam a cana, introduzindo neles ferros e pedaços de cantaria rígida!

Mais antiga que a fábrica de S. João, mas excelente para o seu tempo, era a fábrica fundada em 1856 por Severiano Alberto Ferraz e em que dispendeu cerca de vinte e cinco contos. Melhorada pelos filhos do fundador, a fábrica da Ponte Nova tinha em 1862 clarificadores a vapor, concentradores de Bour, máquinas centrífugas para a extração do melaço, etc., sendo considerada como um estabelecimento de primeira ordem e o melhor que existia então no Funchal. Tinha como motor o vapor, sendo o movimento distribuído por uma máquina de dez cavalos, a outras diferentes máquinas de fabricação.

A fábrica do Torreão foi fundada por William Hinton & Cia, também em 1856, e tinha como motor a água, mas quando esta escasseava no verão, o movimento era estabelecido por uma máquina a vapor da força de doze cavalos.

Os primitivos engenhos da ilha eram todos movidos a água ou pela força de bois, sendo os cilindros construídos algumas vezes com madeira de lei, outrora muito freqüente. Além dos engenhos, havia também as "alçapremas" ou prensas manuais.

Não dizem os antigos documentos de que processo se serviram os proprietários de engenhos e alçapremas para fabricar o açúcar, mas é de crer que esse processo consistisse em fazer cozinhar as garapas em caldeiras até a consistência do xarope espesso, transferindo-as neste estado para vasos furados no fundo, onde se depositariam os cristais, saindo o líquido pelos orifícios. É também de supor que na purificação dos açúcares fossem empregados a água de cal e o carvão mineral, produtos estes que a indústria moderna utiliza igualmente .

A indústria da refinação dos açúcares floresceu na Madeira no século XV, sendo daqui que ela passou a Lisboa, onde, como diz o Dr. Azevedo - criou tantas fortunas particulares em detrimento das colônias e da indústria sacarina mesma.

 

Fonte:http://www.ceha-madeira.net/elucidario/e/eng1.htm