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Aprendendo com o Mané

       

   

Revirando meus alfarrábios!

                   

        

        

Carijó! Que tribo era essa?

Relendo Lucas Boiteux, em suas "Notas para a História Catarinense, de 1911", encontrei algumas informações dos antecessores dos europeus na colonização da Ilha. Então ai vai:

      

..."A grande tribo dos Carijós limitava-se ao nordeste com os Tupinikins, ao norte com os Guayanas, a noroeste com os Cai-acangs, a oeste com os Guandos, e finalmente ao sul com os Tapés (Tapis?). Querem alguns historiadores que nossa costa tivesse sido também povoada por uma tribo chamada Patos. Os nossos cronistas antigos não se referem a ela. A confusão provém de terem sido denominados - dos patos - a baia e o porto de Santa Catarina, de modo que quando queriam referir-se aos Guaranis, que lá habitavam diziam: os índios dos patos; e dai os índios Patos, os Patos, etc. O Padre Simão de Vasconcellos nos explica que esta tribo era a mesma dos Carijós e que assim a denominavam porque habitava a costa..." 

..."A costa catarinense era povoada , segundo antigos cronistas, por uma grande tribo chamada Carijó, Carihó, ou melhor Cariyoc o que significa - descendente dos brancos ou dos anciãos..."

..."Os Carijós moravam em aldeias ( tabas ) que consistiam na reunião de vários ranchos ou cabanas ( oka ), cobertos de capim, folhas de palmeira guaricana e casca de árvores - pelo frio, que é grande por aquelas partes, com duas ou três pequenas aberturas, e construídos todos em torno de uma praça ( okara )..."

..."Circulando a aldeia levantavam uma estacada ou cercado de pau-a-pique ( caá-içá ) e com uma única entrada. Cada rancho tinha uma abertura que servia de chaminé e as portas eram de varas ligadas convenientemente. Várias famílias habitavam o mesmo rancho e dormiam sobre esteiras macias, com penas e folhas e tinham como cobertores outras esteiras ou peles de animais. Usavam também de redes ou macas ( ini ) de algodão ligadas por cordas ( ini-chama ) a dois postes ou esteios ( okytá ). Conservavam constantemente o fogo ( tatá ) aceso na lareira ( tatá-rendaba ), para a qual voltavam os pés quando dormiam. Á fuligem chamavam picuman. Os utensílios domésticos que usavam eram: o cesto simples ( jacá ), o cesto pequeno com tampo ( uru ), o cesto com asa (samburá), a peneira ( uru-pema ), os alguidares ( nhaem ), as panelas ( nhaem-popô ), o pote pequeno ( camuti ou camucim ), a talha para água ( y-guaçaba ), as cuias que serviam de canecos, o fuso ( y-yma ) e o pilão ( induá ), etc..."

..."Para se comunicarem com outras aldeias abriam trilhos ou picadas ( apé ), que quando eram largas e mais bem feitas denominavam  apé-açu..."

     


 

Santo Antônio - a origem

Eis algumas informações da Localidade das mais tradicionais da Ilha.

    

Com mais de 300 anos, Santo Antônio de Lisboa é uma das comunidades mais antigas da Ilha (o segundo mais antigo, depois do Ribeirão). A fundação do povoado de Santo Antônio de Lisboa ocorreu a 11 de janeiro de 1698 quando o padre Mateus de Leão e outros 20 casais receberam sesmarias de duas léguas na área compreendida entre a Lagoa e o Rio Ratones. Nas terras concedidas pelo capitão-mor de São Francisco do Sul, Domingos Francisco Francisques (procurador do Marquês de Cascaes), eles construíram choupanas e abriram a mata para o cultivo. O adensamento populacional ocorreu com a chegada de casais açorianos, a partir de 1748. A presença açoriana pode ser sentida até hoje através das características arquitetônicas e culturais ainda preservadas.

Na visão do historiador Sérgio Ferreira, o lugar continua como Virgílio Várzea descreveu em 1896: "Santo Antônio é uma localidade das mais aprazíveis da costa ocidental da Ilha. Situada em solo plano e à beira-mar, entre Cacupé Pequeno e a Ponta da Ilhota, dir-se-á uma cidadezinha, pela sua pitoresca praça ornada de prédios construídos como os de certos arrabaldes antigos da Capital, e pela sua disposição em três ou quatro ruas cheias de casas, unidas ou separadas apenas por pequenas hortas e jardins, que não existem em outros sítios".

Consolidado na década de 90 como bairro residencial da Capital, Santo Antônio de Lisboa surgiu a partir da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades (criada pelo Marquês de Pombal em 1750) erguida em torno da igreja de mesmo nome (conhecida como Igreja de Santo Antônio). O templo foi construído em terras doadas por Clara Manso de Avelar, filha de Manuel Manso de Avelar, que havia sido sargento-mor da Ilha de Santa Catarina. O trono principal da Igreja foi dedicado a Santo Antônio devido à devoção de Clara ao franciscano nascido em Lisboa.

Apesar do nome oficial de Nossa Senhora das Necessidades, o local em 1856 já era conhecido como Santo Antônio. Apenas em 1948 o distrito recebeu o nome que tem hoje, através de projeto do deputado estadual coronel Pedro Lopes Vieira. Saiba mais...

   


  

Folclore, uma ciência social

Como surgiu este termo? Eis algumas informações sobre esta ciência.

 

A personalidade humana está completamente circundada de superstições de agoioros no seu corpo, nos seus actos e nos objectos de uso diário.

  

O folclore, ciência considerada indispensável para o conhecimento social e psicológico de um povo, deve seu nome ao arqueólogo inglês William John Thoms, que no dia 22 de agosto de 1846 empregou pela primeira vez a palavra folk-lore, composta de dois vocávulos saxônicos antigos: folk, significando povo, e lore, que quer dizer conhecimento ou ciência. Portanto, o folclore pode ser definido como a ciência que estuda todas as manifestações do saber popular. No Brasil, após a reforma ortográfica de 1934, que eliminou a letra k, a palavra perdeu também o hífen e tornou-se folclore.

O folclore é encontrado na literatura sob a forma de poemas, lendas contos, provérbios e canções, assim como nos costumes tradicionais como danças, jogos, crendices e supertições. Verifica-se também sua existência nas artes e nas mais diversas manifestações da atividade humana.

Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congreso Brasileiro de Folclore em 1951, "constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e intituições que se dedicam ou à renovação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica".

Dia do Folclore: 22 de agosto. A data foi criada em 1965 através de um decreto federal.
No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como o mês do folclore.  

Para se saber se um fato apresentado pelo povo é folclórico ou não, basta observar se tem as suas principais características, que são:

         

1. Anonimato – Não tem autor conhecido. Naturalmente tudo tem um ator, mas no folclore o seu nome se perdeu através dos tempos, despersonalizando-se. Este fato foi aceito e modificado pela coletividade, passando a ser obra do povo. Ele sofreu alterações no tempo e no espaço apresentando grande número de variantes.

     

2. Aceitação coletiva – O povo, aceitação o fato, toma-o para si como se fosse seu e o modifica e transforma, dando origem a inúmeras variantes. O próprio poço diz “quem conta um conto aumenta um ponto”. O mesmo acontece com a música e com as danças, que tomam feições diferentes em cada lugar, tanto pela coreografia como pela indumentária, mas sempre conservam uma estrutura que determina aquela dança ou aquela música e as modificações não invalidam o modelo.

    

3. Transmissão oral – A transmissão do fato folclórico se faz de boca em boca, pois os antigos e mesmo as populações mais atrasadas do interior não possuem outro meio de comunicação. Nestes lugares mais afastados da civilização só se aprende por ouvir dizer ou, quando se refere à técnica de artesanato, se aprende também por imitação. Na transmissão oral vive toda a história daquele grupo e a aquisição do conhecimento dá a cada um a possibilidade de difundi-lo, cabendo aos mais bem dotados a responsabilidade maior na sua propaganda.

   

4. Tradicionalidade – Não no sentido de tradicionalista acabado, isto é, de uma coisa do passado, mas como o modo vivo e atual pelo qual os conhecimentos foram transmitidos, ex.: avô, pai, filho, neto. Não tendo outros meios de aprender, como professores, escolas, imprensa, rádio, etc., as pessoas recorrem às lições do passado para resolverem problemas do presente. Possuem mais sabedoria constituída do que a inventiva. Essa força age no sentido de garantir a permanência de uma cultura, mas sofre pressão de outras culturas vindas de fora, daí a sua modificação.

   

5. Funcionalidade – Tudo quanto o povo faz tem uma razão, um destino, uma função. O povo nada realiza sem motivo, geralmente ligado ao comportamento do grupo ou a uma norma psico-religiosa-social, que se perde na noite dos tempos. Por que o povo canta? Canta para rezar, para dançar, para trabalhar, para adormecer crianças, para enterrar seus mortos, etc., mas não dá concertos, recitais nem audições. Suas danças têm datas marcadas e só naquelas ocasiões ele as executa (por exemplo: as congadas e caiapós de Poços de Caldas só aparecem na festa de S. Benedito).

    

O fato folclórico, como expressão da experiência popular, é sempre atual, pois encontra-se em constante renovação. O folclore não é estático, mas essencialmente dinâmico. Apesar de transmitido de pai para filho, dentro do mesmo agrupamento social, ele se modifica de acordo com as necessidades externas, mas conserva-se essencialmente o mesmo (exemplo: pano da Costa das baianas, flores de plástico dos congos, etc.).

O fato folclórico, como expressão da vida peculiar de uma coletividade, não acompanha a moda, mas muitas vezes se contrapõe a ela, assim como às artes e técnicas eruditas modernas, ainda que estas possam lhe dar origem (exemplo: cerâmicas, bordados, etc). Apesar de tradicional, ele pode ser originário de uma forma erudita de cultura, que se despersonalizou e foi aceita coletivamente (exemplo: valsa das “pastorinhas”).

Somente o que é popular é folclórico e o folclore é o retrato vivo dos sentimentos populares e das reações do povo ante as transformações sociais.

 


     

Entrudo não é Carnaval?

Conheça um pouco sobre as suas diferenças.

   

O Carnaval é uma época consagrada aos divertimentos e folias, cujas origens se perdem nas civilizações egípcia e romana. Nos nossos dias, antecede a Quaresma, mais precisamente, a preceder a quarta-feira de Cinzas, sendo os dias mais festejados, os chamados “dias gordos”, ou seja, o domingo, a segunda e a terça feira. Como estamos comemorando o Carnaval, que tal saber como o Carnaval é vivenciado pela etnia açoriana ?
Antigamente, o Carnaval, também chamado de Entrudo, era muito festejado nos Açores, especialmente nas comunidades menores. Até mais festejado que o Natal. As casas dos lavradores tinham as mesas fartamente recheadas com as iguarias da época, que é o inverno europeu, como: filhós de panela ( roscas fritas ) , melassadas ( mal assadas roscas feitas a mão e fritas ) , fatias fritas ( pão frito com cobertura de açúcar e canela ),fatias douradas, bolos secos, figos em passas, fôfas, aguardentes, angelica ( cachaça de uva ) e licores caseiros. Um porco era morto para terem mais fartura naqueles dias festivos. Todos se divertiam usando uma máscara para cobrir o rosto ou disfarçando-se nos mais extravagantes trajes, numa completa transformação de personalidades e formas físicas. Haviam jogos carnavalescos, assaltos alegres nas casas, bailes e as danças de entrudo que eram manifestações de cultura popular enraizada em seu meio.
Estas danças remontam ao século XVI , especialmente na Ilha Terceira , uma das nove ilhas do Arquipélago dos Açores e devem ter sido introduzidas pelos primeiros povoadores. No século XVII, com as dificuldades criadas para a cultura da cana nas ilhas, muitos donos de engenhos, mestres e alguma mão-de-obra especializada, transferiram-se para o Brasil, dando origem a muitos “autos” como as congadas, os reisados, o maracatu, enriquecendo o folclore brasileiro.
Foi no início do século XVII que se iniciou a vinda para o Brasil dos casais açorianos com o objetivo de povoarem o território de Santa Catarina e o riograndense. As danças de entrudo na Ilha Terceira conjugam a coreografia e a teia teatral. Duas alas comandadas por um mestre com apito, percorrem uma coreografia , num emaranhado de cores e cantos, acabando por regressarem ao ponto de partida. Ao fundo, os atores em posição estática, avançando à frente sempre que precisem atuar. Esta atuação tem um enredo que aborda os mais diversos assuntos, indo do dramático ao cômico, explorando a história, a religião, as situações sócio-econômicas os meros episódios do cotidiano. Não existem cenários, apenas, ambientações como árvores, animais, transportes...
Antigamente eram as danças de entrudo ao ar livre. Com o tempo passaram para danças de salão, chamados de “casas de espetáculos”. Na realidade, as danças de entrudo são como nossos blocos carnavalescos que possuem um grupo, um enredo encomendado, a escolha dos trajes, a confecção. Também são usadas lantejoulas, canutilhos, missangas, plumas, lamês e tecidos fulgurantes. Os grupos ensaiam e têm seus músicos que saem à frente do cortejo. O mestre faz a abertura e o final : é o puxador do enredo. Os autores são todos poetas do povo, dramaturgos populares criativos.
As Danças de Entrudo passaram a ser a referência histórica para os carnavais brasileiros e mais uma vez, a cultura açoriana aparece como animadora e primordial nos nossos destinos de memória. Neste ano a Escola Porto da Pedra do Rio de Janeiro, na segunda feira, trouxe uma das suas alas mostrando esta parte da história açoriana, ligada diretamente à história do Carnaval brasileiro que era o seu enredo principal.
A alegria que se pode sentir no carnaval brasileiro é uma somatória de momentos vividos por nossa formação cultural, nas etnias que nos geraram. Assim, acreditar na herança açoriana é uma obrigação nossa, como acreditar nas demais heranças italiana, alemã, espanhola, libanesa e tantas outras.
As Danças de Entrudo mostram que o carnaval tem enredo, início, meio e fim e é um grande teatro, uma grande encenação a céu aberto.
Quanto às receitas, se você ficou com vontade de saber mais, tenho muitas açorianas para matar a vontade. Inda mais, depois de tanta folia !

                


Fonte:

Notas para a Historia Catharinense, Lucas A. Boiteux, Livraria Moderna, Florianópolis, 1911, p.45-46.

Jornal A Notícia, coluna Fala Mané, por Aldírio Simões

Folclore Brasileiro, Nilza B. Megale - Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

Danças de Entrudo nos Açores, de Augusto Gomes, 1999.