Santo Antônio - a origem
Eis
algumas informações da Localidade das mais tradicionais da Ilha.
Com
mais de 300 anos, Santo Antônio de Lisboa é uma das comunidades mais
antigas da Ilha (o segundo mais antigo, depois do Ribeirão). A fundação
do povoado de Santo Antônio de Lisboa ocorreu a 11 de janeiro de 1698
quando o padre Mateus de Leão e outros 20 casais receberam sesmarias de
duas léguas na área compreendida entre a Lagoa e o Rio Ratones. Nas
terras concedidas pelo capitão-mor de São Francisco do Sul, Domingos
Francisco Francisques (procurador do Marquês de Cascaes), eles construíram
choupanas e abriram a mata para o cultivo. O adensamento populacional
ocorreu com a chegada de casais açorianos, a partir de 1748. A presença
açoriana pode ser sentida até hoje através das características
arquitetônicas e culturais ainda preservadas.
Na
visão do historiador Sérgio Ferreira, o lugar continua como Virgílio
Várzea descreveu em 1896: "Santo Antônio é uma localidade
das mais aprazíveis da costa ocidental da Ilha. Situada em solo
plano e à beira-mar, entre Cacupé Pequeno e a Ponta da Ilhota,
dir-se-á uma cidadezinha, pela sua pitoresca praça ornada de prédios
construídos como os de certos arrabaldes antigos da Capital, e
pela sua disposição em três ou quatro ruas cheias de casas,
unidas ou separadas apenas por pequenas hortas e jardins, que não
existem em outros sítios".
Consolidado
na década de 90 como bairro residencial da Capital, Santo Antônio
de Lisboa surgiu a partir da freguesia de Nossa Senhora das
Necessidades (criada pelo Marquês de Pombal em 1750) erguida em
torno da igreja de mesmo nome (conhecida como Igreja de Santo Antônio).
O templo foi construído em terras doadas por Clara Manso de
Avelar, filha de Manuel Manso de Avelar, que havia sido
sargento-mor da Ilha de Santa Catarina. O trono principal da
Igreja foi dedicado a Santo Antônio devido à devoção de Clara
ao franciscano nascido em Lisboa.
Apesar
do nome oficial de Nossa Senhora das Necessidades, o local em 1856
já era conhecido como Santo Antônio. Apenas em 1948 o distrito
recebeu o nome que tem hoje, através de projeto do deputado
estadual coronel Pedro Lopes Vieira. Saiba
mais...
Folclore, uma ciência social
Como
surgiu este termo? Eis
algumas informações sobre esta ciência.
A
personalidade humana está completamente circundada de superstições
de agoioros no seu corpo, nos seus actos e nos objectos de uso diário.
O
folclore, ciência considerada indispensável para o conhecimento
social e psicológico de um povo, deve seu nome ao arqueólogo
inglês William John Thoms, que no dia 22 de agosto de 1846
empregou pela primeira vez a palavra folk-lore, composta de dois
vocávulos saxônicos antigos: folk, significando povo, e lore,
que quer dizer conhecimento ou ciência. Portanto, o folclore pode
ser definido como a ciência que estuda todas as manifestações
do saber popular. No
Brasil, após a reforma ortográfica de 1934, que eliminou a letra
k, a palavra perdeu também o hífen e tornou-se folclore.
O
folclore é encontrado na literatura sob a forma de poemas, lendas
contos, provérbios e canções, assim como nos costumes
tradicionais como danças, jogos, crendices e supertições.
Verifica-se também sua existência nas artes e nas mais diversas
manifestações da atividade humana.
Segundo
a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congreso
Brasileiro de Folclore em 1951, "constituem fato folclórico
as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela
tradição popular, ou pela imitação, e que não sejam
diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e intituições
que se dedicam ou à renovação do patrimônio científico e artístico
humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica".
Dia
do Folclore: 22 de agosto. A data foi criada em 1965 através de
um decreto federal.
No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como
o mês do folclore.
Para
se saber se um fato apresentado pelo povo é folclórico ou não,
basta observar se tem as suas principais características, que são:
1.
Anonimato – Não tem autor conhecido. Naturalmente tudo tem um
ator, mas no folclore o seu nome se perdeu através dos tempos,
despersonalizando-se. Este fato foi aceito e modificado pela
coletividade, passando a ser obra do povo. Ele sofreu alterações
no tempo e no espaço apresentando grande número de variantes.
2.
Aceitação coletiva – O povo, aceitação o fato, toma-o para
si como se fosse seu e o modifica e transforma, dando origem a inúmeras
variantes. O próprio poço diz “quem conta um conto aumenta um
ponto”. O mesmo acontece com a música e com as danças, que
tomam feições diferentes em cada lugar, tanto pela coreografia
como pela indumentária, mas sempre conservam uma estrutura que
determina aquela dança ou aquela música e as modificações não
invalidam o modelo.
3.
Transmissão oral – A transmissão do fato folclórico se faz de
boca em boca, pois os antigos e mesmo as populações mais
atrasadas do interior não possuem outro meio de comunicação.
Nestes lugares mais afastados da civilização só se aprende por
ouvir dizer ou, quando se refere à técnica de artesanato, se
aprende também por imitação. Na transmissão oral vive toda a
história daquele grupo e a aquisição do conhecimento dá a cada
um a possibilidade de difundi-lo, cabendo aos mais bem dotados a
responsabilidade maior na sua propaganda.
4.
Tradicionalidade – Não no sentido de tradicionalista acabado,
isto é, de uma coisa do passado, mas como o modo vivo e atual
pelo qual os conhecimentos foram transmitidos, ex.: avô, pai,
filho, neto. Não tendo outros meios de aprender, como
professores, escolas, imprensa, rádio, etc., as pessoas recorrem
às lições do passado para resolverem problemas do presente.
Possuem mais sabedoria constituída do que a inventiva. Essa força
age no sentido de garantir a permanência de uma cultura, mas
sofre pressão de outras culturas vindas de fora, daí a sua
modificação.
5.
Funcionalidade – Tudo quanto o povo faz tem uma razão, um
destino, uma função. O povo nada realiza sem motivo, geralmente
ligado ao comportamento do grupo ou a uma norma
psico-religiosa-social, que se perde na noite dos tempos. Por que
o povo canta? Canta para rezar, para dançar, para trabalhar, para
adormecer crianças, para enterrar seus mortos, etc., mas não dá
concertos, recitais nem audições. Suas danças têm datas
marcadas e só naquelas ocasiões ele as executa (por exemplo: as
congadas e caiapós de Poços de Caldas só aparecem na festa de
S. Benedito).
O
fato folclórico, como expressão da experiência popular, é
sempre atual, pois encontra-se em constante renovação. O
folclore não é estático, mas essencialmente dinâmico. Apesar
de transmitido de pai para filho, dentro do mesmo agrupamento
social, ele se modifica de acordo com as necessidades externas,
mas conserva-se essencialmente o mesmo (exemplo: pano da Costa das
baianas, flores de plástico dos congos, etc.).
O
fato folclórico, como expressão da vida peculiar de uma
coletividade, não acompanha a moda, mas muitas vezes se contrapõe
a ela, assim como às artes e técnicas eruditas modernas, ainda
que estas possam lhe dar origem (exemplo: cerâmicas, bordados,
etc). Apesar de tradicional, ele pode ser originário de uma forma
erudita de cultura, que se despersonalizou e foi aceita
coletivamente (exemplo: valsa das “pastorinhas”).
Somente
o que é popular é folclórico e o folclore é o retrato vivo dos
sentimentos populares e das reações do povo ante as transformações
sociais.
Entrudo não é
Carnaval?
Conheça
um pouco sobre as suas diferenças.
O Carnaval é uma época
consagrada aos divertimentos e folias, cujas origens se perdem nas
civilizações egípcia e romana. Nos nossos dias, antecede a
Quaresma, mais precisamente, a preceder a quarta-feira de Cinzas,
sendo os dias mais festejados, os chamados “dias gordos”, ou seja,
o domingo, a segunda e a terça feira. Como estamos comemorando o
Carnaval, que tal saber como o Carnaval é vivenciado pela etnia
açoriana ?
Antigamente, o Carnaval, também chamado de Entrudo, era muito
festejado nos Açores, especialmente nas comunidades menores. Até
mais festejado que o Natal. As casas dos lavradores tinham as
mesas fartamente recheadas com as iguarias da época, que é o
inverno europeu, como: filhós de panela ( roscas fritas ) ,
melassadas ( mal assadas roscas feitas a mão e fritas ) , fatias
fritas ( pão frito com cobertura de açúcar e canela ),fatias
douradas, bolos secos, figos em passas, fôfas, aguardentes,
angelica ( cachaça de uva ) e licores caseiros. Um porco era morto
para terem mais fartura naqueles dias festivos. Todos se divertiam
usando uma máscara para cobrir o rosto ou disfarçando-se nos mais
extravagantes trajes, numa completa transformação de
personalidades e formas físicas. Haviam jogos carnavalescos,
assaltos alegres nas casas, bailes e as danças de entrudo que eram
manifestações de cultura popular enraizada em seu meio.
Estas danças remontam ao século XVI , especialmente na Ilha
Terceira , uma das nove ilhas do Arquipélago dos Açores e devem
ter sido introduzidas pelos primeiros povoadores. No século XVII,
com as dificuldades criadas para a cultura da cana nas ilhas,
muitos donos de engenhos, mestres e alguma mão-de-obra
especializada, transferiram-se para o Brasil, dando origem a
muitos “autos” como as congadas, os reisados, o maracatu,
enriquecendo o folclore brasileiro.
Foi no início do século XVII que se iniciou a vinda para o Brasil
dos casais açorianos com o objetivo de povoarem o território de
Santa Catarina e o riograndense. As danças de entrudo na Ilha
Terceira conjugam a coreografia e a teia teatral. Duas alas
comandadas por um mestre com apito, percorrem uma coreografia ,
num emaranhado de cores e cantos, acabando por regressarem ao
ponto de partida. Ao fundo, os atores em posição estática,
avançando à frente sempre que precisem atuar. Esta atuação tem um
enredo que aborda os mais diversos assuntos, indo do dramático ao
cômico, explorando a história, a religião, as situações
sócio-econômicas os meros episódios do cotidiano. Não existem
cenários, apenas, ambientações como árvores, animais,
transportes...
Antigamente eram as danças de entrudo ao ar livre. Com o tempo
passaram para danças de salão, chamados de “casas de espetáculos”.
Na realidade, as danças de entrudo são como nossos blocos
carnavalescos que possuem um grupo, um enredo encomendado, a
escolha dos trajes, a confecção. Também são usadas lantejoulas,
canutilhos, missangas, plumas, lamês e tecidos fulgurantes. Os
grupos ensaiam e têm seus músicos que saem à frente do cortejo. O
mestre faz a abertura e o final : é o puxador do enredo. Os
autores são todos poetas do povo, dramaturgos populares criativos.
As Danças de Entrudo passaram a ser a referência histórica para os
carnavais brasileiros e mais uma vez, a cultura açoriana aparece
como animadora e primordial nos nossos destinos de memória. Neste
ano a Escola Porto da Pedra do Rio de Janeiro, na segunda feira,
trouxe uma das suas alas mostrando esta parte da história
açoriana, ligada diretamente à história do Carnaval brasileiro que
era o seu enredo principal.
A alegria que se pode sentir no carnaval brasileiro é uma
somatória de momentos vividos por nossa formação cultural, nas
etnias que nos geraram. Assim, acreditar na herança açoriana é uma
obrigação nossa, como acreditar nas demais heranças italiana,
alemã, espanhola, libanesa e tantas outras.
As Danças de Entrudo mostram que o carnaval tem enredo, início,
meio e fim e é um grande teatro, uma grande encenação a céu
aberto.
Quanto às receitas, se você ficou com vontade de saber mais, tenho
muitas açorianas para matar a vontade. Inda mais, depois de tanta
folia !