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Festa popular ou religiosa? Eis a questão.


Nesta seção desfilam as principais manifestações culturais ligadas às festas de cunho popular e religioso. Pode-se dizer que, na maioria, confundem-se simplesmente pelo fato da festa religiosa ter o objetivo de reunir o povo da região na reflexão dos temas religiosos. Normalmente, as pessoas participam, auxiliando na organização, fornecendo doces e quitutes ou ainda doando dinheiro ou brindes para serem sorteados no evento. Atualmente estas festas oferecem outros atrativos como: música, parques de diversões e um forte comércio ambulante. Descaracterizando, muitas vezes, por completo, a finalidade principal do evento, a religiosidade. 

        

Inclui-se as procissões por se fazerem presentes nas festas de cunho religioso.


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Agenda Cultural da Ilha

   

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

fevereiro - todo município

 

Eventos Pré-carnavalescos

fevereiro - todo município

   

Carnaval
março - todo município
   

Eventos Comemorativos a Emancipação Política de Florianópolis

março - todo município
    
Procissão do Senhor Jesus dos Passos

março - Centro
   
Maratona Fotográfica de Florianópolis
março - todo município
   
Ciclo das Festas do Divino Espírito Santo
abril a setembro - todo município

 

Armação

Canasvieiras

Centro

Barra da Lagoa

Jurerê

Lagoa da Conceição

Trindade

Pântano do Sul

Prainha

Rio Vermelho

Ribeirão da Ilha

Santo Antônio de Lisboa

    
Festa Estadual da Tainha
julho - Ingleses
    
Mostra Nacional de Dança de Florianópolis

junho - Centro
    
Festa da Tainha

julho - Barra da Lagoa 
   
Encontro de Nações: Brasil de Todos os Tons

(gastronomia, artesanato e  danças típicas)
agosto - Largo da Alfândega - Centro
    
Festa da Música Popular das Mercocidades

setembro - Vão central do Mercado Público - Centro

   

Exposição Itinerante de Saint-Exupèry (hidroavião)

outubro - Trapiche da Beiramar Norte

    
Festival Nacional de Teatro de Florianópolis - Isnard Azevedo

novembro - Centro Integrado de Cultura/CIC e espaços públicos
  
Desfile de Natal
dezembro - Beiramar Norte - Centro
  
Reveillon da Gente 2001
dezembro - Beiramar Norte - Centro

   

    


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Festas Juninas

    

    

A origem das festas juninas se pode buscar em uma das montanhas da Judéia, quando as Sagradas Escrituras nos contam sobre a visitação de Maria Santíssima a sua prima Santa Izabel; ocasião em que ambas estavam grávidas, sendo que Izabel estava com a gravidez adiantada três meses da de sua prima Maria.

Naqueles tempos, essas aproximações de amizade eram difíceis devido a falta de condução e a longa distância que moravam uma da outra. Ao se despedirem, Izabel prometeu a Maria que, no dia em que o seu filho nascesse ela mandaria acender uma grande fogueira para que toda a Judéia soubesse do ocorrido.

Presume-se que desta estória tenham nascido as festas juninas, comemoradas em todo o mundo.

As festas juninas eram comemoradas nos dias 12 e 13 de junho em homenagem a Santo Antônio de Lisboa; 23 e 24 de junho em homenagem a São João Batista, o filho de Izabel, prima de Maria Santíssima. Os dias 28 e 29 de junho são dedicados aos apóstolos São Pedro e São Paulo. Em julho, os dias 25 e 26 foram dedicados a Sant'Ana, avó de Jesus Cristo. Nos dias 5 e 6 de agosto as festas

são comemoradas em homenagem ao Senhor Bom Jesus de Iguape. Em setembro, nos dias 28 e 29 foram dedicados ao Arcanjo São Miguel.

Para a comemoração das festas Juninas, promoviam-se os novenários acompanhados de fogueiras, onde se assava tainhas na brasa, cana de açúcar, batata doce, aipim e outras guloseimas. Oferecia-se café, batata com melado, cará do chão, rosca de polvilho, broas, beijús, rosca de massa, cuscuz e bolos de farinha de milho assados na folha da bananeira.

Realizavam leilões de vários objetos, aves e animais.Estas festas aconteciam tanto nas igrejas conto nas casas particulares, sendo que nas festas realizadas nas igrejas eram cobradas taxas para a sua manutenção. Gera1mente os capelães eram pessoas da comunidade que apresentavam maior grau de habilidade social.

As novenas eram quase todas rezadas em latim. Cada capelão usava o latim de acordo com sua modesta cultura regional.

Tanto nas igrejas ou capelas, como nas casas particulares, era costume acender grandes fogueiras em lugar de destaque com diversas funções: geralmente por ser inverno na ocasião das festas elas serviam para aquecer o grande número de pessoas presentes nos festejos; servia como iluminação principal; servia também para assar em suas brasas, o peixe, a batata doce e o aipim. A fogueira era o centro de atração e observava-se o tamanho, a altura e a beleza na colocação da lenha formando uma torre. Em volta da fogueira cantava-se, dançava-se e realizavam-se inúmeras brincadeiras e jogos.

As praças e quintais eram ornamentados com palmeiras e arcos de bambu, além do colorido das bandeirolas de papel que cobriam todo o espaço destinado a festa. Na iluminação empregavam pedaços de bambu com três canudos, onde cada um deles tinha um furo. Por estes furos colocavam o querosene e se introduzia um pavio de fio de algodão com um bocal de folha de flandre. Daí obtinham a iluminação para os festejos, além da fogueira que ardia toda a noite, também usou-se para obter iluminação, o azeite de peixe, o azeite de mamona, o azeite de nozes de nogueira colocados em vasilhames com um pavio de fio de algodão num bocal de metal.

Estas festas se realizavam nas casas onde se homenageavam o santo aniversariante. Era costume criarem uma irmandade nas casas particulares, possibilitando assim, angariarem fundos para custearem as despesas com as novenas, fogos e comestíveis. As irmandades eram compostas de juízes e mordomos.

Era tradicional se fazer depois das novenas o anúncio dos nomes dos festeiros do ano seguinte. Esperavam com muita ansiedade as escolhas que se faziam anunciar entregando aos novos mordomos e juízes uma vela acesa significando assim, a entrega do título, que eram aceitos com muita honra e orgulho.

Também era muito usado retirar a imagem do altar e no mesmo salão, quando nas casas particulares, realizarem um baile. Os instrumentos mais usados eram a gaita, o violão e o violino. Contratavam cantores repentistas que animavam a festa noite à dentro.

Era comum soltar fogos de artifícios que eram feitos do tronco da embaúba, por ser oco. Nele colocava-se pólvora, ateava-se fogo causando grandes estampidos. Eram chamados de trabucos. Havia também os foguetes de vara com duas ou três bombas, rojões, os famosos busca-pés, além de inúmeros e tradicionais balões feitos com papel de seda coloridos de tamanhos variados. Também colocavam nas fogueiras as folhas do abricó, mangue formiga, bambu, capororoca e o araçazeiro que no contato com o calor provocam estralos (estalos) festivos.

Havia uma crendice de que as brasas acendidas para homenagear São João não queimavam. Por isto várias pessoas descalçavam-se, calmamente pisavam sobre as brasas e atravessavam de um lado ao outro da fogueira sem se queimarem.

Nas vésperas das festas de São João e Santo Antônio, era hábito as moças solteiras tentarem ganhar sorte para obterem um casamento imediato e feliz.

Em volta da fogueira dançavam sempre a Ratoeira. As festas não se restringiam apenas ao período noturno, mas também durante todo o dia. Os jogos eram os mais variados e para todos eles havia sempre um prêmio. Realizavam brincadeiras como: subir no pau-de-sebo, a corrida do saco, o jogo do mingau, o quebra-pote, a linha na agulha, a corrida dos pés amarrados, a corrida do ovo na colher, o jogo da galinha, o jogo com melado e farinha, o jogo dos sapatos trocados, o rabo do burro ou do porco, entre outras.

  

Algumas quadrinhas tradicionais para Santo Antônio casamenteiro, por Franklin Cascaes.

  

Encostado na jaqueira

Eu falei com o meu bem

Só cantei pra Santo Antônio

Mas não contes prá ninguém

  

Da cana se faz melado

Da mandioca farinha

Meu querido Santo Antônio

Quero casar com a Aninha

 

Da cana se faz cachaça

E da mandioca caroera

Livra-me ó bom Santo Antônio

De mulher mexeriqueira

 

Já me fizestes sofrer

Já me fizestes chorar

Eu fiz queixa a Santo Antônio

Agora vou me vingar

 

Toda vez que vou na fonte

Sinto cheiro de jasmim

Faço rogos a Santo Antônio

Pra arranjar um bem pra mim

 

Santo Antônio eu te mando

Uma carta de atenção

Pra pedir-te um namorado

Mesmo que seja algum Tião

 

Tenho uma peneira nova

Mode peneirar caroeira

Santo Antônio bem me cases

Não quero viver solteira

 

Santo Antônio ingrato

Eu, vou roubar o teu filho

Me mandaste um namorado

Com cabelo cor de milho

 

Botei salsa no telhado

Prá Santo Antônio orvalhar

Com lágrimas do meu bem

Que tantas fiz derramar

 

Na noite de Santo Antônio

Vou acender uma fogueira

Não quero casar contigo

Prefiro morrer solteira

 

Escrevi pra Santo Antônio

Quando voltei da Lisboa

Mode arranjar um patrão

Pra dirigir alinha canoa

 

A vida de solteirona

É vida desconsolada

Querido Santo Antônio

Me desvia desta cilada

 

Hó estrelinha brilhante

0rnamento lá do céu

Pede prá Santo Antônio

Encomendar o meu véu

 

Em cima daquele morro

Tem um pé de samambaia

Santo Antônio tô assustado

De vêr tanta mini saia.

   

  

Depoimento

José Simão – Caieira

 

"... As festas na Lagoa eram boas.
Tinha a festa do Espírito Santo, do Santo Amaro...
A festa da Nossa Senhora da Conceição acabou-se.
Substituíram porque roubaram a santa, 

levaram também o Espírito Santo,

Santo Amaro, a Santa Custódia...
Roubaram muita coisa de valor... prata, ouro, tudo...
... As procissões iam até lá, onde é o Grupo, ia uma
porção de gente, cantando, tocando as músicas da Igreja.
Naquele tempo, a procissão mais famosa era da Conceição
e depois a de Santo Amaro."

      

     


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Festa da Santa Cruz

          

     

Santas Cruzes

    

As santas cruzes são um dos marcos históricos-culturais mais antigos na Ilha de Santa Catarina. Herança portuguesa presente em todo o País, faz alusão à primeira missa no Brasil, celebrada pelo frei Henrique de Coimbra - uma das primeiras providências tomadas pelos descobridores da nova terra. Além da proteção divina, tinham como objetivo consolidar a fundação e delimitar o espaço físico de um novo povoado. Serviam de altar para novenários e como locais para celebrações variadas, além de serem garantia de proteção contra seres fantásticos como bruxas e lobisomens.

Na década de 60, o pesquisador da cultura popular Franklin Joaquim Cascaes documentou todas as santas cruzes existentes na Ilha. Encontrou 36 delas, em sua maioria feita de madeira, com elementos decorativos que variavam de uma comunidade para outra. A Festa de Santa Cruz acontecia de 2 para 3 de maio e, no decorrer do ano, outros festejos que duravam de três ou quatro noites, quando as cruzes eram enfeitadas com bandeiras. Antigamente, todas as comunidades do interior da Ilha tinham pelo menos uma santa cruz, em cuja simbologia estavam todos os elementos da paixão e morte de Cristo. Atualmente, há poucas unidades, como a da praia do Saquinho, no Sul da Ilha, onde está uma das mais completas santa cruzes, em que a celebração constitui-se na única festa anual, com novenas combinando rezas, música, dança e bebida.

      

Elementos decorativos e simbólicos na Santa Cruz

     

- Coroa de espinhos, que simboliza o flagelo de Cristo.

- Coração com chamas de fé.

- Galo, que simboliza a omissão a Cristo quando São Pedro nega tê-lo conhecido.

- Martelo, utilizado para cravar os pregos nas mãos e pés de Cristo.

- Pregos ou cravos.

- JNRJ ou INRI, inscrição que significa Jesus Nazareno Rei dos Judeus.

- Resplendor, luz espiritual do Santo Cristo.

- Lança dos soldados romanos que transpassou o sagrado coração de Jesus.

- Escada utilizada para retirar o corpo de Cristo da cruz.

- Torquês utilizada para arrancar os pregos que prendiam as mãos e os pés de Cristo.

- Canas, que serviam como cetro quando Cristo foi torturado e intitulado rei dos judeus.

- Corneta, que servia como arauto anunciando a morte de um condenado.

- Cálice onde foi recolhido o sagrado sangue de Cristo.

- Ossos humanos. Diz a lenda que, quando Cristo agonizava na cruz, no Monte Calvário, houve uma grande tempestade. A erosão escavou na base do Monte alguns   ossos que seriam de Adão.

     

Santas cruzes já registradas na Ilha de Santa Catarina

    

Trindade, Itacorubi, Saco Grande, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui, Barra do Sambaqui, São José da Ponta Grossa, Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus, Ponta das Canas, Ingleses, São João do Rio Vermelho, Vargem do Bom Jesus, Vargem Grande, Barra da Lagoa, Fortaleza da Barra, Retiro da Lagoa, Lagoa da Conceição, Canto da Lagoa, Campeche, Morro das Pedras, Costa de Dentro, Pântano do Sul, Saquinho, Costeira do Ribeirão da Ilha, Porto do Ribeirão, Alto do Ribeirão e Carianos.

    

        


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Festa da Santíssima Trindade

      

      

Ainda não se tem com precisão a data do início dos festejos. Em pesquisa recente, já em 1857, havia uma "festança", com Imperador do Divino, leilões e muito cavalo pastando no adro da igreja...", como publica o jornal "O Argos", de 21/07/1857, citado por Oswaldo Cabral. Com base nesse documento, o mais antigo conhecido, a comissão que organiza a Festa resolveu considerar o ano de 2001 como o da 144ª edição do evento.    

   

   


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Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

    

    

Em fevereiro, normalmente na segunda semana antes do Carnaval, ocorrem as festas de N. Sra. dos Navegantes. A festa de Navegantes é uma procissão de barcos enfeitados que levam a imagem da santa protetora dos pescadores. Na Ilha tais festas são tradicionais nos Ingleses e Pântano do Sul, embora se realizem com mais freqüência, nas cidades do litoral fronteiriço. Estas festas religiosas costumam reunir ao mesmo tempo cortejos, celebrações, quermesses, diversões e foguetórios. N. Sra. de Navegantes, o Senhor dos Passos, Santo Antônio dos Anjos e N. Sra. da Lapa do Ribeirão constituem os chamados "santos padroeiros do mar".

Note-se que neste período que vai de fevereiro a maio ocorre o defeso do camarão, a principal atividade do pescador, que assim, permanece na comunidade depois de vários meses de ausência.

    

       


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Folias do Boi

     

      

Boi-na-Vara e a Farra-do-Boi

     

Entre as tradições açorianas que o ilhéu mais cultiva, está a farra-do-boi que ocorre na época de Páscoa. Na Ilha, na área rural, a cerca de 50 anos, ainda havia quem brincasse com o boi através do Boi-na-vara. O boi-na-vara consistia de uma vara de bambú fixada no chão e a cerca de dois terços de sua altura era pendurado um boneco de pano fixo por um cordão ou fio. Na ponta, era presa uma corda, a qual o boi era amarrado. A brincadeira era fazer irritar o boi através do boneco que, era atacado pelo boi que nunca conseguia alcançá-lo. Como a vara sempre voltava a sua posição original o pobre animal cansava e esgotado era sacrificado pelos patrocinadores do boi e sua carne distribuída para a festa que se seguia.

O boi-na-vara, desapareceu para tomar lugar a farra-do-boi, onde diferentemente da primeira, o boi fica solto, posto em liberdade pelos farristas que passam a excitá-lo em campo aberto ou em mangueirões (áreas cercadas). O boi perseguido e acuado é malhado e sendo presa fácil é sacrificado pelos patrocinadores do boi. Outra diferença marcante entre as duas manifestações é a postura dos farristas. Onde antes participavam mais passivamente, somente cansando o animal; atualmente, passam a ter uma participação mais ativa, enfrentando o animal, maltratando-o até a sua morte.

As origens dessas manifestações remontam do final do século XII ou início do XII, em Portugal, baseada nas touradas já popularizadas na região ibérica. Na área urbana, o boi é substituído por um boneco de pano, normalmente pendurado em algum poste ou arvore. A brincadeira consiste na "malhação do Judas", ou seja, a surra do boneco com paus e pedras, representando o castigo à traição de Judas.

     

Depoimento
Laurindo – Freguesia da Lagoa

            

"...Farra do boi é coisa antiga, sempre houve.
Os homens bebiam muito.
Havia perigo porque tinha boi brabo, mas não machucava ninguém.
O pessoal era meio cruel com o boi.
O animal sofria muito, sempre judiaram.
Isso é uma tradição.
Quando o boi não queria andar, jogavam pedra, faziam de tudo.
Quando o boi cansava, paravam e o animal descansava.
Depois matavam e dividiam a carne."

     

     


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Folias do Espírito Santo

        

      

Tem decaído muitíssimo a antiga folia do Divino Espírito Santo. Outrora, ao correr do mês de maio, enchiam-se os caminhos de foliões a colherem esmolas de porta em porta para a grande festa a realizar-se em junho. Era um hábito que agitava por aquele tempo a vida ordinariamente silenciosa das localidades do interior.

Presentemente, estão rareando os bandos do Divino. Mas ainda agora, como noutros tempos, constam da bandeira, da viola, rabeca e tambor. Estes três trazidos a tiracolo, em cadarço vermelho e ornamentados de flores.

A bandeira é formada por inúmeras e longas fitas multicores dadas em promessa, e que pendem de uma vara roliça de dois metros e meio, encimada pela pombinha do Espírito Santo. Conduzem-na de trecho à trecho, em cada arraial, as pessoas que fizeram promessa nesse sentido.

E a pé, de cabeça descoberta, o chapéu caído sobre os ombros, o bando lá se vai por todas as estradas da paróquia, rufando o rebarbativo e lôbrego tambor, cujo surdo soar reboa o dia todo pelas quebradas: "Guibom, ribombom, bom; guibom, ribombom, bom...”

Ainda à porta da rua, os foliões cantam, guiados pelo patrão do bando, que é o da rabeca:

   

Abri a vossa morada,

P'ra o Divino Espírito Santo,

A fortuna vem trazer-vos,

Com seu estrelado manto.

   

Todos os da casa beijam a pombinha e as fitas da bandeira. E a cantoria prossegue. O tambor dá início, rouquenhamente: "Guibom, ribombom, bom; guibom, ribombom, bom..."

A rabeca e a viola fazem o solo, num musicado de acordes agudos algo chorosos.

   

Dizem que no céu tem anjos,

Cá na terra também tem,

Juntem todos os anjinhos,

Cada um dá seu vintém.

  

Em seguida se agradece a esmola:

  

Deus vos pague meus anjinhos,

Meus anjinhos lá do céu,

A Virgem Nossa Senhora

Cubra-os com seu santo véu.

   

    

E lá seguem estrada afora: "Guibom, ribombom, bom; guibom ribombom, bom ..."

  

Ao encontrarem uma cruz, cantam:

  

Deus vos salve cruz sagrada,

Que estais no campo sereno,

Nela morreu Jesus Cristo,

O bom Jesus Nazareno.

  

Deus vos salve cruz sagrada,

Que ali estais no campo em pé,

Nela morreu Jesus Cristo,

Bom Jesus, Deus Nazaré.

  

Depois de todo um longo mês de romaria, a bandeira recolhe-se à igreja da paróquia, onde vai ser celebrada a Festa do Divino Espírito Santo. Os foliões saúdam o templo:

  

Viva quem no alto mora,

A quem no alto se veja,

A virgem Nossa Senhora,

Padroeira desta igreja.

  

Que lindo encontro foi este,

Aqui nesta ocasião,

Vamos nos pôr de joelhos,

Fazer nossa devoção.

   

Que lindo encontro foi este,

Neste dia tão saudoso

Encontrou o Espírito Santo,

Mãe e filho, pai, esposo.

   


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Festa do Divino

     

     

A Festa do Divino Espírito Santo é uma tradição religiosa que foi instituída em 1296, na cidade portuguesa de Alenquer. Por causa do clima de guerra entre o rei dom Diniz e seu filho, a rainha Isabel de Aragão – a rainha Santa – clamou ao Divino Espírito Santo que se restabelecesse os tempos de paz. Em gratidão, ela mandou fazer uma cópia da coroa do reino, colocando no alto uma pomba branca (o símbolo do Divino), para sair em peregrinação pelo mundo, arrecadando donativos aos pobres. De maio a setembro, Santa Catarina revive esta que é uma das mais significativas manifestações religiosas trazidas pelos colonizadores açorianos.

           

Oração do Espírito Santo

      

Vinde, Espírito Santo,

enchei os corações dos

Vossos fiéis e acendei neles

o fogo do Vosso amor. 

Enviai o

Vosso Espírito e tudo será criado.

E renovareis a face da terra.

   

(oremos)

   

Deus, que instruístes os

corações dos Vossos fiéis

com a luz do Espírito Santo,

fazei que apreciemos

retamente todas as coisas

segundo o mesmo Espírito

e gozemos sempre da sua

Consolação.

Por Cristo, Senhor nosso.

Amém.

     

O ciclo do Divino começa já na Quaresma com a saída da Bandeira do Divino, que percorre as casas coletando donativos para a festa, que se dá no dia de Pentecostes, 50 dias após a Quarta-feira de Cinzas. A Bandeira é carregada por foliões que pertencem as Irmandades do Divino Espírito Santo. Tais irmandades já existem a pelo menos dois séculos.

É comum as bandeiras amanhecerem nas romarias e, tal qual os Ternos de Reis, os foliões recebem comidas e bebidas dos agraciados com a visita. A festa popular propriamente dita ocorre durante três dias em que há cortejo imperial, missa festiva, quermesses, bailes, apresentações folclóricas e queima de fogos. No último dia são coroados o Imperador e a Imperatriz e eleito o festeiro que coordenará as festividades do ano seguinte. Mais detalhadamente nos tópicos seguintes.

      

Ciclo do Divino Espírito Santo na Ilha de Santa Catarina

     

Na Ilha de Santa Catarina, principal concentração dos colonizadores, são realizadas mais de uma dezena delas durante o período que segue cinqüenta dias depois da Páscoa, culminando no domingo de Pentecostes – quando se celebra a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. 

As maiores delas são as da Armação de Santa Ana do Pântano do Sul, Cachoeira do Rio Tavares, Campeche, Canasvieiras, Estreito (no continente), Lagoa da Conceição, Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão (Ribeirão da Ilha), São João do Rio Vermelho, Santo Antônio de Lisboa, Pântano do Sul, Trindade e da Capela da Irmandade do Divino Espírito Santo, na região central 

(capela da Irmandade do Divino Espírito Santo), sendo a mais antiga, há 227 anos.

De maneira especial vamos nos referir a Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, capital do estado catarinense, e ponto da chegada dos açorianos. Por este motivo temos várias localidades (freguesias) com suas festas do Divino Espírito Santo nos moldes da Ilha Terceira nos Açores.

 

Calendário das Festas do Divino nas Comunidades da Ilha de Santa Catarina em 2012

 

Maio

 

24 a 27 – Centro

 

Local: Dependências da Irmandade do Divino Espírito Santo/IDES

         Av. Hercílio Luz nº 1249 (imediações da Praça Getúlio Vargas)

Casal festeiro: Estevão Soquete e Maria de Lourdes W. Soquete

 

25 a 27 – Estreito

 

Local: Rua Souza Dutra nº 442 (imediações da Pça N.Sra de Fátima)

Casal festeiro: Jorge Luiz Linhares e Sandra S. Linhares

                              

25 a 27 – Ribeirão da Ilha

 

Local: Rua Alberto Cavalheiro nº 238 (em frente da Pça Hermínio Silva)

Casal festeiro: Luiz Siqueira e Ivonete Maria Siqueira

 

26 e 27 – Lagoa da Conceição

 

Local: Rua Francisca Luiza Vieira

                (imediações da Igreja da Lagoa da Conceição)

Casal festeiro: Celso João Ramos e Silvia Zeferina Ramos

 

 26 e 27 – Monte Verde

 

Local: Rod. Virgílio Várzea nº 538 (Imediações da Igreja S. Fco Xavier)

Casal festeiro: Rogério Braz e Lúcia Helena Castro Braz

 

Junho 

 

1 a 3 – Trindade

 

Local: Praça Santos Dumont nº 94

Casal festeiro: Pedro Camacho dos Santos e Iracema S. dos Santos

 

8 a 10 – Rio Tavares

 

Local: Rua do Divino Espírito Santo /Cachoeira do Rio Tavares

              (Ao lado da garagem da empresa Insular)

Casal festeiro: Jair Manoel Pereira e Alaíde Tomé Pereira

 

9 e 10 – Pântano do Sul

 

Local: Rua Abelardo Otacílio Gomes (Centrinho)

Casal festeiro: José Círio Arcenio e Cátia Regina Arcenio

 

16 e 17 – Prainha

 

Local: Rua 13 de maio (imediações da Paróquia Santa Terezinha)

Casal festeiro: Lino Vidal Pereira e Santa de Pinho Pereira

 

Julho

 

14 e 15 – Campeche

 

Local: Rua da Capela nº 1347

Casal festeiro: Valter C. do Nascimento e Maria Aparecida do Nascimento

 

Agosto/Setembro

 

31, 1 e 2 – Barra da Lagoa

 

Local: Rua Amaro Coelho nº 35 (imediações da Praça de Esportes)

Casal festeiro: João José de Souza e Maria Natal B. de Souza

 

Setembro

 

7 a 9 – Santo Antonio de Lisboa

 

Local: Caminho dos Açores nº 2450 (em frente da Praça Getúlio Vargas)

Casal festeiro: Maurício Cunha Martins e Silvana M. da Silva Martins                                       

      

15 e 16 – Rio Vermelho

 

Local: Rod. João Gualberto Soares (em frente da Praça João G. Soares)

Casal festeiro: Rangel Abreu Nunes e Dalva Dulcelina Nunes

 

28 a 30 – Canasvieiras

 

Local: Rua Tertuliano de Brito Xavier (imediações da Igreja S. Fco. de Paula)

Casal festeiro: Paulo Martins Ramos e Irinezia Adelina M. Ramos

 

         

Fase do Divino Espírito Santo no Litoral Catarinense

    

Pelo fato dos imigrantes açorianos terem se estabelecido próximo ao mar, o Litoral é a região do Estado onde mais acontece a comemoração. O povo açoriano extremamente católico, trouxe consigo os seus cultos religiosos. Dentre eles, o mais forte é o culto ao Divino Espírito Santo. Este legado secular hoje é seguramente a manifestação mais significativa da cultura popular catarinense. 

A costa litorânea do nosso estado é composta por 43 municípios, com fundamentos na cultura de base açoriana e muitos destes ainda fazem acontecer a festa do Divino Espírito Santo: Araquari, Armação da Piedade, Barra Velha, Biguaçu, Blumenau, Camboriú, Governador Celso Ramos, Imaruí, Imbituba, Itajaí, Jaguaruna, Laguna, Mirim, Navegantes, Palhoça, Penha, Porto Belo, São José (São Miguel), Santo Amaro da Imperatriz, Tijucas, Tubarão, Palhoça (Enseada do Brito/sede do município, Aririú), São Francisco do Sul e Florianópolis. 

Há locais em que as festividades se prolongam até depois do domingo da Trindade. Em cada uma delas, na combinação de rituais religiosos e festejos populares, são adicionadas características próprias, porém os acréscimos não alteram sua essência.

Cada município ou localidade citada acima assumiu características próprias nos festejos populares profano/religiosos do culto ao Divino Espírito Santo, mas estas mudanças, sofridas ao longo dos tempos, não alteraram a essência deste culto, que mantém os mesmos elementos básicos de quando foi instituída a celebração por Izabel de Aragão, em Alenquer.  

      

Fases do Divino Espírito Santo

   

O ciclo do Divino Espírito Santo apresentava etapas bem definidas: peditórios, novenas, cantorias e festas; bem como símbolos: bandeira do Divino, coroa, salva, cetro, impérios, festeiros, imperador e imperatriz, corte, cortejo imperial, coroação, pagamento de promessas, pãozinho do Divino, varas, mastro do Divino, juizes de vara e bandas.

          

Peditório

       

Acontece nos meses que antecedem as festas, iniciando-se no domingo após a Páscoa e se prolongando pelo tempo necessário a visitar toda a comunidade, indistintamente da condição social dos moradores. Normalmente eram duas as bandeiras que seguiam em direções apostas, voltando a se encontrar durante a festa. É um ritual que passava em todas as casas da localidade pedindo donativos para o "Divino" (entenda-se festa do Divino). Era formado por um grupo de pessoas. Urna delas carregando a bandeira do Divino Espírito Santo, mais três ou quatro que formavam a cantoria e populares (nos finais de semana), que ao ritmo da cantoria, iam rimando versos, pedindo e agradecendo donativos que seriam utilizados para ajudar na realização das festas. O peditório - também chamado de folia do Divino, podemos comparar ao “correr da migalha" que ocorre em algumas festas do Divino Espírito Santo nos Açores. Era tradição enfeitar as casas onde a Bandeira do Divino ia passar, arrumar uma sala para receber a Folia do Divino e oferecer comida e bebida para os foliões. Citamos algumas quadras dos versos cantados no litoral catarinense,

   

Dê-me licença que entre

Dentro de sua morada

Uma bandeira divina

E a coroa sagrada.

   

O Divino pede esmola

Mas não é por precisão

Pede para experimentar

Os seus devotos que são.

   

Após recebera esmola vem o agradecimento.

    

Ah! Que esmola tão alegre

Deram a Deus criador

Quem vos há de agradecer

é o Divino Salvador

  

Enfeitaste a tua casa

Com folhas de laranjeira

Decerto estavas esperando

Esta sagrada Bandeira

   

Deste uma fita a Bandeira

E uma fita encarnada

Ao senhor que nos dá vida

Nesta hora tão sagrada.

   

O Divino Espírito Santo

É pai da redenção, ai...

Coma bandeira sagrada

Anderjios com oração, aí..,

    

Este sinhô vai embora

E o pai da Divindade, ai...

E aqui está as três pessoas, ai,

E da Santíssima Trindade, ai, ai...

    

(Ambas as quadras foram coletada pelo Professor Doralécio Soares)

        

Novenas

     

Tradicionalmente, a novena antecede a festa do Divino. Ritual religioso que se faz à noite, normalmente aos sábados, na casa ou capela que hasteou a bandeira. Antigamente, “folia” e a “bandeira” que percorria as residências fazendo o peditório durante o dia, à noite pousava em alguma casa onde acontecia a novena, rezada toda em latim por um capelão e acompanhada pela cantoria. Após a novena havia foguetório e arremate das doações recolhi­das.

       

Cantorias ou Folias do Espírito Santo

     

Conhecidas sempre como “cantoria ou folias do Divino”, acompanhavam as bandeiras durante o peditório. Estavam sempre presentes nas novenas, e tinham como principal função acompanhar o cortejo imperial e a coroação do imperador. Com seu ritmo e versos, conduzia o cortejo até o altar, fazendo todo o ritual de coroação e o acompanhamento do cortejo até a casa (império) do Divino. Era formado por três a cinco pessoas que tocavam instrumentos como tambor, rabeca, viola e violão. Um deles, o cantador, puxa os versos e os outros fazem o coral. Funcionava como os mestres de cerimônia do culto ao Divino Espírito Santo, pois dirigiam as funções, cantando o roteiro a ser seguido. O grupo da cantoria do Divino as vezes usava indumentária, mas na maioria das vezes não as usava. Existem ainda alguns grupos, hoje, que cumprem o ritual tradicional.

          

Festa do Divino Espírito Santo

   

Era o ponto alto de todo o ritual profano-religioso, iniciado após o domingo de Pentecostes. A data da ocorrência da festa era em função do tempo que as bandeiras levavam para cumprir a etapa do peditório. Atualmente nos meses de maio a setembro. Congregava e ainda congrega todos os elementos simbólicos do ciclo do Divino.

         

A Bandeira do Divino

   

A bandeira e a coroa do Divino são os símbolos centrais da festa, onde giram todos os rituais. A bandeira ainda conserva os mesmos padrões, confeccionada em tecido vermelho, com uma pomba com asas abertas ou bordada e estampada em branco no centro. Em algumas ainda encontramos ramos bordados nas laterais. Na ponta de seu mastro encontramos uma pomba que pode ser de madeira com as asas fechadas (denominada de bandeira pobre que sai em peregrinação realizando o peditório) ou de prata com as asas abertas que se utiliza nas cerimônias e no cortejo. Esta pomba está sempre ornamentada com fitas e flores. As fitas são sempre renovadas e acrescidas, pois se pode pagar uma promessa ao Divino colocando uma fita colorida em sua bandeira. O tamanho do comprimento da fita é sempre da altura da pessoa que está pagando a promessa. O número de Bandeiras é variado. Temos municípios, a exemplo de Itajaí, que costuma também levar para as festas uma bandeira do Divino branca que simboliza a paz - Este ritual é feito pelos devotos do Divino.

  

Coroa

  

Em prata lavrada, principal insígnia de um conjunto formado ainda por Cetro e Salva. No litoral catarinense varia apenas quanto ao tamanho. Usa-se, ainda hoje, apenas uma coroa, ao contrário dos Açores, onde em algumas cerimônias na casa do Divino, aparecem várias coroas. A coroa é o símbolo principal das festas do Divino Espírito Santo, levada nos cortejos pelo casal de Festeiros sob guarda da corte e autoridades eclesiásticas. Quando chegamos ao ponto mais venerado da festividade, a coroação, sem dúvida ela e a figura principal.

     

Cetro

  

Bastão de prata lavrada com uma pomba alçada à ponta, sempre enfeitado por fitas vermelhas e brancas, as cores do Divino, carregado pelo Casal Festeiro (geralmente pelo homem, junto com a coroa sob a salva). Em alguns lugares, quem carregava o cetro era o imperador (festeiro) e sua companheira carregava a coroa sob a salva, talvez urna alusão ao poder que o bastão representava. Em alguns rituais de coroação, a imperatriz ficava com o cetro co imperador com o espadim. Onde ainda se conserva este símbolo, isto acontece.

      

Salva

   

Também de prata, servia para apoio da coroa e do cetro quando do cortejo imperial, ou, na missa, ficava apoiado sobre o altar, às vezes sobre a mesa do padre que conduzia a cerimônia religiosa. No teatro (império) ficaria ao lado do casal imperador para sustentar a coroa e o cetro.

      

Império

   

Também conhecido por teatro (triato) do Divino ou casa do Divino. Era para onde o cortejo imperial se direcionava depois da missa. Ali ficavam expostos para veneração: o casal de imperadores, a corte, bandeiras, coroa do Divino e as massas (pãozinho) do Divino. Neste momento os fiéis costumavam ajoelhar-se e beijar a pomba encimada no cetro do imperador. No litoral catarinense poucos lugares preservam estas construções, sendo na Ilha o registro de cinco destas somente – Trindade, Ribeirão, Campeche, Lagoa e Rio Vermelho. Normalmente improvisa-se um local no salão de festa da própria igreja.

       

Festeiros

    

Era o casal que tinha a responsabilidade financeira de fazer acontecer a festa. Podia ser também chamado de Casal Imperador ou imperadores, juiz Festeiro ou provedores. Nos Açores são chamados de "Mordomos". Eram eles que constituíam a “corte” sempre com membros da sua família, amigos ou vizinhos e organizavam o calendário da festa em conjunto com a igreja local. Para escolha do casal imperador existiam regras e critérios obedecidos pela comunidade. 1º - Promessa: o critério das promessas era muito Forte, aceiro e respeitado. Eram pessoas ou casais que faziam promessas para presidirem a festa do Divino Espírito Santo como festeiros ou mordomos; 2º - Aclamação: na falta de mais candidatos o casal era “aclamado” durante a missa de coroação; e 3º - Sorteio: em alguns municípios a indicação dos novos festeiros era eleita por sorteio. Colocavam-se os nomes dos inscritos (pretendentes) em pedaços de papel lacrados, dentro da salva e retirava-se um. Este sorteio era feito na missa de coroação. Tais hábitos continuam em uso.

      

Imperador e Imperatriz

  

O casal é formado quase sempre por crianças ou adolescentes que são normalmente filhos dos Festeiros, que no auge do ritual são coroados. Sempre bem trajados com indumentárias e acessórios apropriados para o período imperial.

    

Côrte

  

Composta pelos imperadores, os pajens e damas da corte (também crianças ou adolescentes), que vestiam roupas da época, sempre confeccionados em tecidos nobres e bem ornamentados. Também faziam parte da corte, porta-Bandeiras e membros da irmandade, que levavam as varas com velas, como guardiões do Divino.

   

Cortejo imperial

  

O cortejo imperial era montado obedecendo uma certa ordem que descrevemos a seguir: porta-bandeiras ou alferes da Bandeira, damas e pajens, Imperador e Imperatriz, Casal de Festeiros ou imperadores, sempre levando os símbolos/insígnias da festa (coroa, cetro e salva). Autoridades eclesiásticas, outras autoridades, cantoria (foliões) do Divino, membros da Irmandade, outros Festeiros, Convidados e a banda musical. Na segunda-feira da festa, ou após a coroação. acompanhava o cortejo o casal festeiro do ano seguinte. A corte desfilava de duas a três vezes durante a festa com o mesmo roteiro, saia da casa do Festeiro em direção à igreja. Após a missa ia para o Império do Divino. Sempre acompanhada dos acordes da Folia (cantoria) do Divino ou das bandas musicais. A frente do cortejo vinha sempre o fogueteiro, pessoa encarregada de anunciar a passagem do cortejo, o que fazia soltando fogos de artifícios (foguetes de varas e rojões). Atualmente, este roteiro é mantido.

   

Missa

  

A celebração religiosa era e é feita especialmente em louvor ao Divino Espírito Santo, sempre acompanhada das cantorias do Divino.

    

Coroação

  

Auge do ritual. Normalmente acontecia ao final da missa em louvor ao Divino Espírito Santo, geralmente no domingo de pentecostes. Após a benção da Coroa, o celebrante da missa empunha a solene coroa ao imperador (casal de crianças ou adolescentes), sempre comandado pela cantoria e ritmos dos cantadores do Divino. Em algumas localidades quem empunha a coroa para a coroação era o casal festeiro. Depois de coroados, juntamente com a corte imperial, ao ritmo das cantorias do Divino, o casal dirigia-se à Casa do Império do Divino, onde recebia os cumprimentos e adoração. Atualmente, este roteiro é mantido.

    

Pagamento de promessas

  

As promessas ao Divino podiam ser pagas apenas colocando fitas no mastro de sua bandeira, oferecendo massas (pão do Divino) para o arremate. Carregando a Bandeira do Divino durante o peditório, prometendo assumir a festa como casal Festeiro (que é a promessa mais importante) ou simplesmente arrematando os pãezinhos do Divino. Ainda hoje se mantém esta tradição.

    

Pãozinho do Divino

   

Eram os pães produzidos para o pagamento de promessas ao Divino Espírito Santo e que depois de bentos seriam arrematados pelos fiéis. Estes pães eram feitos de massa doce sovada e moldada nas formas da parte do corpo que deu origem à promessa. Encontravam-se pães nas formas da mão, pé, cabeça, corpo inteiro e outras. A procura pelos pãezinhos do Divino era muito grande, demonstrando a devoção ao Divino Espírito Santo. Pode-se comparar o pãozinho do Divino ao “Alfinim” que se faz na Ilha Terceira nos Açores.

    

Varas

  

Varas de madeira envernizados, geralmente com suporte para velas na parte superior, que os membros da irmandade usavam para acompanhar o cortejo, em uso em algumas comunidades, como a de Penha.

   

Mastros do Divino

  

Em poucas localidades do litoral catarinense ainda encontramos o Mastro do Divino. Mastro geralmente de madeira roliça o mais alto possível, às vezes pintado, levando a bandeira do Divino Espírito Santo. Esta bandeira, em tamanho menor e quase sempre pintada à mão, era a que ficava ali no período da Festa. O mastro identificava a festa. Atualmente, não mais registramos esta tradição na Ilha.

    

Juizes da vara (ou senhores da vara, ou varadores)

  

Encontrávamos, esta tradição, nos municípios de Jaguaruna, no sul do Estado, e Penha, norte do Estado de Santa Catarina. Eram as pessoas que seguravam as varas revestidas de tecido vermelho ou branco. Estas varas formavam um quadrado que protegia o imperador no cortejo imperial. Nos Açores, sendo chamado de "Casola" ou "Quadro de varas". Atualmente, não mais registramos esta tradição na Ilha.  

    

Banda Musical

   

Uma banda musical sempre acompanha o cortejo do Divino, entoando seus dobrados e, após o cortejo, normalmente faz uma apresentação ao público na festa.

Manuel da Breda Simões, em “Roteiro lexical do culto e festas do Espírito Santo nos Açores”, relata que acontece nos Açores o “ato da descoroação” o que não ocorre no litoral catarinense. Em Santa Catarina acontece o ato da coroação, e em algumas localidades o imperador coroado dirige-se à casa do Divino com a coroa sobre a cabeça. Em outros casos, após a coroação, acontece o ritual de saída da igreja para a Casa do Divino mas a coroa é transportada na mão do casal festeiro. Nos dois casos acima, quando chegam à casa do Divino, onde a côrte vai ficar "exposta” para adoração e reverências do público. a coroa é simplesmente colocada no altar junto com o cetro e sob a salva.

No litoral de Santa Catarina não encontramos mais o ritual do “Cortejo da Mudança” como se faz em algumas ilhas dos Açores. E montado o altar do Divino Espírito Santo na Casa do Festeiro mas sem este ritual.

Como já comentamos, em Santa Catarina as festas do Divino obedecem ao calendário litúrgico da Igreja Católica que é de cinqüenta dias após a Páscoa, culminando com o domingo de Pentecostes, data em que se celebra a chegada do Espírito Santo. Mas em vários municípios este calendário não funciona, pois, devido à autonomia que se tem para organização da festa, cada comunidade ou irmandade acerta a melhor data no ano para que ela aconteça. Há casos de localidades que juntam o culto ao Divino Espírito Santo à comemoração da data de seus padroeiros locais. Poderia­mos citar Imbituba, Estreito, São João do Rio Vermelho e Santo Antônio de Lisboa. Neste caso, as cerimônias do culto ao Divino são misturadas às do seu padroeiro, numa festa às vezes com maior porte. E é comum ver a coroação de Nossa Senhora ou a imagem do padroeiro percorrendo o Peditório junto com a folia do Divino.

No litoral catarinense não fazem parte da tradição os famosos “bodos” - a distribuição de sopas ou caldos de alcatra ou comidas para os populares de classes mais pobres. Mas é comum em vários locais no domingo da festa ou na segunda feira, a realização de um grande banquete pago pelos festeiros para os que colaboraram na festa. O costume mais tradicional que temos aqui é a distribuição do pãozinho do Divino. A procura pelo pão nos dias de festa é grande, o que reforça a fé e devoção dos catarinenses no Divino Espírito Santo. A distribuição destes pãezinhos e massas de promessas é uma forma de beneficiar as pessoas com os dons ou dádiva da graça da Divino.

Com o passar dos anos e o crescimento das localidades cada comunidade organiza da sua maneira a Festa ao Divino Espírito Santo. Um dos elementos que notamos está desaparecendo é o “Correr da Bandeira ou Peditório”. Nas várias comunidades em que ainda existe a festa, a contribuição é dada em dinheiro e não mais em prendas.

Em algumas comunidades se criou a “Bandeira Pobre”, que é utilizada nas novenas e no peditório, e a “Bandeira Rica”, que só é usada nos dias de festa. Existem também alguns municípios que utilizam a Bandeira Branca.

Na organização da festa estão envolvidos a Irmandade (onde existe) o Padre (igreja) e o Casal de Imperadores (festeiros). Estas pessoas atuam motivando os festejos e estimulando a comunidade a participar. O padre sempre procura motivações de natureza religiosa para trazer mais participação popular, enquanto os festeiros criam as condições para que a população devota manifeste seu louvor e fé no Divino, expressa nos rituais, promessas e respeito aos símbolos. Esta manifestação de fé pode ser expressa de diversas maneiras: Beijar a Bandeira e a Pombinha do Divino> cortar as fitas vermelhas (usam como amuleto, ou Fazem um chá medicinal), adquirir massas de promessas, receber o pãozinho do Divino, doar alimentos> prendas e dinheiro ou participar das missas e cortejos do Divino.

Os arredores da capela e o caminho que leva à casa dos festeiros onde o cortejo imperial irá passar é sempre muito enfeitados com bandeirinhas, estandartes com símbolos do Divino, lâmpadas e outros. Esta é uma tradição que caracteriza as Festas em Santa Catarina.

Outra tradição que encontramos em todas as festas do Divino Espírito Santo no nosso litoral é a queima de fogos de artifício, que acontece no último dia da festa.

O culto ao Divino Espírito Santo é uma festa do povo, que a promove com alegria e louvor, urna tradição coletiva que se renova a cada ano e que está na alma dos descendentes açorianos.  

    

 

    

    


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Procissões

   

    

Procissão de São Sebastião

20 de janeiro

No largo da Igreja São Sebastião.

      

Procissão de Senhor Jesus dos Passos

2º domingo que antecede a Páscoa

Inicia no Hospital de Caridade e segue até a Catedral Metropolitana.

       

Procissão de Corpus Cristi

Sempre as 5ª feiras de junho.

         

Procissão de São Cristóvão

em novembro 

Ao redor da Praça XV, Centro.

        

Procissão de Nosso Senhor Morto

Sexta-feira santa, a noite, no bairro da Trindade.

Nas proximidades da Igreja da Santíssima Trindade.

          

            

Depoimento

Damião – Sertão Grande

        

"...Na Páscoa, nós íamos sempre pra cidade ver a procissão do Senhor dos Passos.
A gente ia a pé, atravessava o morro e, no Itacorubi, pegava o ônibus.
Desde menino, eu ia assistir à procissão lá com minha mãe e meus irmãos.
Nós íamos com os sapatos na mão.
E ninguém fazia cara feia não, todo mundo gostava.
Nós acompanhávamos o santo até o Hospital de Caridade e depois 

pegávamos novamente o ônibus até a Trindade, ou Itacorubi, e 

vínhamos a pé para a Lagoa.
Quando nós morávamos na Costa, nós ainda íamos pra casa de canoa, à noite.
Íamos remando no escuro.
Eram várias canoas..."

        

       


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Senhor Jesus dos Passos

    

     

Histórico

          

A procissão do Senhor Jesus dos Passos representa um momento de profunda religiosidade popular, particularmente visível nos símbolos e rituais que acompanham a sua preparação e celebração.

Em Florianópolis, antiga Desterro, a primeira celebração teria acontecido em 1766, em uma Quinta-Feira, dois anos após a chegada da imagem a Desterro e da fundação da confraria "Irmandade do Senhor Jesus dos Passos", conforme referência assentada na 1ª prestação de contas dessa Irmandade, datada de 27 de setembro de 1767. Ali estão registradas despesas efetuadas com sermões, fitas, tecidos, linhas, cera, feitio de balandrau, entre outras, para a Procissão de 1766 (Fontes, 1765).

A Procissão do Senhor Jesus dos Passos em Florianópolis pouco mudou nos seus 236 anos de celebração. Apresenta três momentos importantes: a Lavação da Imagem, a Transladação e a Procissão, propriamente dita.

      

      

Transladação

      

No Sábado da quinta semana da Quaresma, após a celebração da missa, às sete horas da manhã, acontece a Procissão do Carregador. Começa com a mudança das alfaias, que compreendem vários objetos utilizados na Procissão, tais como castiçais, mesas, suportes, escadinha da Verônica, baús, crucifixos, etc. da Capela do Menino Deus para a Catedral, de onde sairá, no dia seguinte, a Procissão do Senhor Jesus dos Passos. No mesmo dia, à noite, são transladadas as imagens do Senhor Jesus dos Passos (às 20:00h) e Nossa Senhora das Dores (às 21:30 h), com expressivo acompanhamento de Irmãos e devotos.

     

      

Lavação da Imagem

     

Quinze dias antes da Sexta-Feira Santa, ocorre a lavação da imagem do Senhor dos Passos. Este ato é realizado por duas crianças menores de seis anos, que passam um pano embebido em água perfumada nos pés, rosto e mãos da imagem. Em seguida, ela é preparada e vestida por quatro senhores, membros da Irmandade.

Esta água perfumada e benta é distribuída entre pessoas que a procuram para a cura de algum mal.  

            

  

A Procissão

       

No Domingo, à tarde, realiza-se a Procissão propriamente dita. Saem da catedral as duas imagens, fazendo trajetos diferentes. O cortejo é aberto por um estandarte, chamado Guião, onde se lê a sigla S.P.Q.R. Senado de Todo Povo Romano e segue, então, pelas ruas de Florianópolis, reconstituindo os passos do Calvário, numa representação da “Via Crucis”. Grande é o número de populares e autoridades que acompanham a secular Procissão, ao lado dos Irmãos da Irmandade. Integram o cortejo pessoas da comunidade, representando as figuras de José de Arimatéia, Nicodemus, São João, Maria Mãe, Maria Madalena, Simão Cirineu, três Beús e a Verônica, que acompanharam Cristo em direção ao Monte Calvário. Junto ao cortejo, verifica-se também, a presença de pessoas "pagadoras de promessas", numa comovente atitude de fé e amor ao Senhor Jesus do Passos.

No decorrer da Procissão, acontecem algumas paradas, chamadas de "estações da “Via Crucis”. É neste momento que Verônica canta, anunciando a dor de Cristo. Após o canto, a matraca (instrumento de madeira e ferro) é tocada e o seu som é o sinal para dar prosseguimento ao cortejo. Ao atingir a Praça XV de Novembro, em frente a Catedral Metropolitana, dá-se o comovente "Encontro" das duas imagens: Senhor Jesus do Passos o Filho e Nossa Senhora das Dores a Mãe. Mi é proferido o "Sermão do Encontro" por uma autoridade eclesiástica especialmente convidada. Após este ato, as duas procissões se unificam e seguem em direção a Capela do Menino Deus, no Morro da Boa Vista, simbolizando o Monte Calvário.

Encerra-se, assim, a Procissão, um comovente testemunho de fé e devoção, que se transmite de geração a geração.

A Procissão do Senhor Jesus dos Passos é um símbolo da cidade de Florianópolis, referência de destaque no seu Patrimônio Imaterial.

    

      


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Ternos ou Festa de Reis

    

Os Ternos são grupos de cantadores que anunciam em verso a chegada dos Santos Reis, visitando espontaneamente as casas de família. Costumam entrar pela noite adentro desde que o dono da casa mantenha a oferta de comidas e bebidas. Vai até o dia de Reis, 6 de janeiro. Os Ternos diminuíram bastante na Ilha, restando os de Sambaqui, Lagoa, Ribeirão e Pântano do Sul.

O três reis magos nunca tiveram grandes homenagens na terra catarinense – escreve Crispim Mira, em "Terra Catarinense" (obra citada). Os ternos que se organizaram e que ainda se organizam aqui e ali para os festejar estiveram sempre muito longe de parecer-se com os de que fala a tradição relativamente à Bahia.

Não obstante, tem a festa de reis (dos rezes, dizem na roça), não poucos admiradores e ainda constitui, em janeiro, um agradável motivo para diversão.

Agrada, sobretudo, pela graça com que é de praxe antecipar a entrada nas casas aonde se vai pedir reis.

A essas loas seguiam-se, outrora, espórtulas aos cantores.

Na cidade a chegada é cerimoniosa:

    

Aqui estou em vossa porta,

Como feixinho de lenha,

Esperando a resposta

Que de vossa bôca venha.

    

Se fizerem luz a acolhida é favorável e os cantores o assinalam:

   

Porta aberta, luz acesa,

É sinal de alegria,

Mande entrar os santos reis

Com sua nobre família.

   

Confessa-se o que se pretende:

   

Aqui viemos cantar,

Por estar noite de chuva,

E também porque queremos,

Da parreira um cacho de uva

   

Declara-se a guloseima:

   

Aqui viemos cantar,

Porque a noite está tio bela,

Provaremos com prazer,

Doce de cravo e canela.

   

São mais clássicas as quadrinhas seguintes, usadas no interior:

   

O de casa nobre gente,

Escutai quê ouvireis,

A partida do Oriente,

A chegada dos três reis.

   

O de casa nobre gente,

Escutai com atenção,

Já nasceu o rei do mundo,

Para nossa salvação.

   

Para ver o Salvador,

Bendito seja o Messias,

Viagem que era de um ano

Fizeram em treze dias.

   

Acordai si estais dormindo,

Fazei o sinal da cruz,

Lá vem vindo a estrela d'alva,

Com seu menino Jesus.

   

Entrai pastores, entrai,

Por estes portões a dentro,

Vinde ver o Deus menino,

No seu santo nascimento.

   

À procura de Jesus,

Sem nunca poder achar,

Fomos chegar a Belém,

Antes do galo cantar.

    

Cantou o galo, bateu asas,

Não respondeu mais ninguém,

Uma ovelha foi que disse:

Cristo nasceu em Belém.

   

Ficai vós com Deus, senhores,

Na glória com o soberano,

Que lhe dê felicidade,

Boas festas e bom ano.

    

Os "Ternos" também são levados a efeito nas festas de "Ano Bom", "São Sebastião" e "Santo Amaro", tomando os nomes dessas festas.

     

    



Festas Juninas. Franklin Cascaes. Museu de Antropologia da UFSC, 1978

Fundação Franklin Cascaes - Setur/PMF

Depoimentos: “Vozes da Lagoa”. Ourofino, Bebel e Borges, Elaine